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A primeira entrevista em psicoterapia.

Márcia Estarque Pinheiro

RESUMO

O Objetivo deste artigo é ressaltar alguns itens, entre tantos outros, sobre a

primeira entrevista do processo psicoterapêutico, despertando a curiosidade do

terapeuta e facilitando a discussão em relação a este momento especial do

processo terapêutico e suas influências. Serão comentados temas como, por

exemplo: a importância dessa etapa do processo terapêutico, a postura e a

preparação do terapeuta, além de itens relacionados ao desenvolvimento da

primeira entrevista propriamente dita, como sua duração, cuidados com a

linguagem neste primeiro contato, alguns pontos da história do cliente que

podem ser explorados neste momento, o estabelecimento do valor a ser

cobrado por essa entrevista e aspectos relevantes do estabelecimento do

contrato terapêutico. É importante ressaltar que com este artigo não se tem

nenhuma pretensão de propor um modelo único, rígido para o desenvolvimento

da primeira entrevista em psicoterapia, pois cada encontro com um cliente é

único e possui suas particularidades.

Palavras-chave: Primeira entrevista; psicoterapia; Gestalt-Terapia; contrato;

silêncio; valor; sessão; objetivo; rapport.

ABSTRACT

The objective of this article is, to stand out some itens, between many others,

about the first interview of the psychotherapeutic process, arouse the therapist’s

curiosity and making easy the discussion about this special moment of the

therapeutical process and its influences. Some subjects will be commented, for

example: the importance of this stage of the therapeutical process, the attitude

and the preparation of the therapist, beyond itens related to the development of

the first interview properly said, as its duration, cares with the language in this

first contact, some points of the history of the client that can be explored at this

moment, the establishment of the value of the interview and relevant aspects to

make a therapeutic contract. Its important to stand out that this article does not

intend to propose a rigid or unique model for the development of the first

interview in psycotherapy, therefore each meeting with a client is singular.

Keywords: First interview; psychotherapy; Gestalt-Therapy; contract; silence;

value; session; objective; rapport.

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A minha intenção com este artigo é despertar a atenção do terapeuta em

relação a pequenos detalhes que podem facilitar ou dificultar este momento

especial do processo terapêutico, buscando através de minhas colocações

levantar a discussão e reflexão em relação a suas influências, sem nenhuma

pretensão de propor um modelo rígido e definido para o desenvolvimento da

primeira entrevista em psicoterapia. Apesar de saber que as normas

tradicionais científicas orientam que devemos escrever artigos de forma

impessoal, optei por me colocar ao longo deste texto de forma pessoal,

coerente com a tradição da gestalt-terapia, o que me faz sentir mais implicada

em relação às idéias que estou expondo ao longo deste trabalho.

Este texto faz parte integrante do curso “A primeira entrevista em psicoterapia”

cuja motivação surgiu da reflexão sobre o grande número de primeiras

entrevistas que venho realizando desde 1992 e das aulas do curso de

especialização em psicologia clínica Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e

Família) ministrado no IGT . Estas primeiras entrevistas foram de tipos, formas,

estilos e resultados bem diferentes, tanto em função das peculiaridades dos

entrevistados como da entrevistadora ao longo do tempo. Ao longo deste

tempo venho me fazendo algumas perguntas, como por exemplo: O que faz

com que consiga um bom vínculo com pessoas tão diferentes em apenas

cinqüenta minutos? O que permite que pessoas se exponham tanto para mim?

Por que, com tanta freqüência, eu ouço a frase: “Nunca falei disso para

ninguém, estou surpreso(a) comigo mesmo(a)”? O que acontece que alguns

clientes não voltam? Da onde vem a minha sensação de que “errei a mão”? De

que falei de mais ou de menos? O que aproxima e o que afasta os clientes no

contato comigo? Quais os reflexos positivos e negativos deste primeiro

momento no processo terapêutico como um todo?

Tenho refletido bastante sobre esse tema, e daí surgiu a vontade de

compartilhar minha experiência e minhas idéias sobre primeiras entrevistas

com outros colegas psicólogos e estudantes de psicologia.

Começar uma relação terapêutica com um projeto já totalmente fechado a

priori, sem observar as diferenças individuais de cada cliente e de cada

encontro terapeuta/cliente não ajuda o terapeuta a perceber a pessoa que está

a sua frente em toda a sua amplitude. Um modelo predefinido para o

desenvolvimento de primeiras entrevistas em psicoterapia vai totalmente contra

a proposta terapêutica da Gestalt-terapia, abordagem que escolhi para basear

todo o meu trabalho clínico, como bem descreve Juliano (1999):

A Gestalt é principalmente uma postura diante da vida, que implica

um contato vivo com o mundo, com a pessoa do outro, na sua

singularidade, sem pré-concepção de qualquer ordem. Esse contato

apóia-se sobre a vivência, na experiência de primeira mão, no aqui e

agora, o que estimula uma presença constante e atenta, com ênfase

na percepção sensorial; focaliza o fluxo e a direção da energia

corporal. ( p.25)

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1. Importância da primeira entrevista

Quanto mais paro para pensar sobre a primeira entrevista em um processo

terapêutico mais percebo sua importância. O ditado popular “A primeira

impressão é a que fica” é uma expressão que simplifica minha reflexão. A

primeira entrevista é a porta de entrada, o “cartão de visitas” do terapeuta para

seus clientes . Neste primeiro contato são trocadas muito mais do que apenas

informações contratuais e queixas iniciais. São estabelecidos vínculos de

suporte fundamentais para o desenvolvimento do processo psicoterapêutico.

Como coloca SILVEIRA (1997):

As primeiras entrevistas são momentos de conhecimento e escolha

mútua em que o cliente se apresenta pelos seus motivos, queixas,

questões e história de forma peculiar, e o terapeuta se mostra pelo

seu estilo pessoal, sua indumentária, seu escritório de atendimento e

suas formas de intervir. As primeiras entrevistas são também

momentos de acolhimento e preparação para o vínculo que começa

a se fazer. A forma de presença do terapeuta é, portanto,

fundamental para o tipo de relacionamento que vai acontecer. (p.12)

É o primeiro encontro de duas pessoas que nunca se viram antes, sendo a

primeira vez que o cliente se encontra com aquela pessoa (terapeuta) frente a

frente para falar de seus problemas. Muitos fatores interferem neste primeiro

contato, como por exemplo: ser a primeira experiência com um(a)

psicoterapeuta; o preconceito presente em nossa sociedade em relação a

quem busca ajuda psicológica (Isso é coisa de “maluco”!); o cliente ter vivido

experiências desprazerosas em outras tentativas de tratamento com

psicólogos, não se sentindo ouvido ou entendido. A proposta daquele momento

é que se fale de temas que não são fáceis de lidar para aquele cliente, caso

contrário ele(a) não estaria ali (é muito difícil alguém buscar terapia estando

“bem resolvido” e equilibrado na sua vida pessoal). Esta situação por si só, já

pode causar um constrangimento e pode dificultar que o cliente fale

diretamente num primeiro momento do motivo, de sua queixa inicial que o

trouxe até o consultório. Cada cliente tem sua história e suas características

próprias que estão presentes naquele encontro o qual definitivamente não é um

“encontro” qualquer.

Estou ressaltando o ponto de vista do cliente, porém, além disso, é também o

primeiro contato do terapeuta com aquele cliente. O terapeuta também está se

ajustando àquela nova situação, começando a conhecer aquela pessoa que

está na sua frente e para tal está usando suas referências pessoais e seu

momento de vida para situar-se naquele contato, como comenta Juliano

(1999): “...Tento discernir o quanto dessas reações pertencem a mim, ao meu

próprio contexto, e quanto dessas reações vêm do novo sistema constituído, da

relação com a pessoa que está na minha frente.” (p.28)

Lembro-me da expectativa para minha primeira entrevista como terapeuta,

ainda estagiária do SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) da UERJ

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(Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Foram dias de preparação: leitura

de textos (muito poucos, e menos ainda escritos por gestalt-terapeutas),

organização de roteiros e tensão, muita tensão! O cliente viria? Será que eu me

lembraria de tudo que deveria observar e perguntar? Será que vai achar que

tenho cara de criança, que tenho experiência de vida suficiente para

acompanhá-lo? Meu cliente gostaria de mim? Eu passaria a segurança

necessária? Vai me considerar competente para ajudá-lo a lidar com suas

dificuldades? Eu conseguirei identificar e “resolver” logo o problema do cliente?

Foi um período de grande ansiedade e bastante produtivo, pois me fez estar

alerta, pesquisar, discutir com a supervisora e com os colegas de estágio sobre

vários itens importantes. Não fiquei acomodada em um modelo pronto,

querendo seguir uma “receita de bolo”, o que, aliás, é uma tentação quando

estamos fazendo algo pela primeira vez e não estamos muito seguros. Aprendi

muito desde aquela época e continuo aprendendo até hoje, pois a cada

encontro com um novo cliente acrescento algo ao meu repertório de

possibilidades. Pronta, com certeza, não estarei nunca, porém, posso manter o

aprendizado e o aprimoramento constantes em minha formação profissional,

evitando uma acomodação ingênua e rígida em uma determinada postura.

O tempo foi passando, fui desenvolvendo meu estilo de “primeiro encontro” e

este estilo foi se modificando. Cada vez mais foi ficando clara para mim a

importância desse primeiro momento e de sua ressonância durante todo o

processo terapêutico. Neste momento estabelecemos bases para o

desenvolvimento daquela nova relação, que será modificada ao longo do

tempo com certeza, mas a primeira entrevista ficará sempre como referência

daquele primeiro momento de encontro. Como coloca SILVEIRA (1997):

Os encontros iniciais são fundamentais para firmar a confiança na

relação, fornecer suporte e desenvolver o auto-suporte. Muitos

autores têm escrito sobre o assunto. Yontef, por exemplo, afirma que

a Gestalt-terapia é uma abordagem existencial, que tem sua base no

relacionamento de uma forma específica de diálogo existencial

inspirado na relação EU-TU de Martin Buber. (p13.)

2. Visão de homem do terapeuta

Desde o primeiro contato com o cliente preciso ter clareza de que postura

considero coerente e desejo ter para não me perder em termos dos objetivos

do meu trabalho e do tipo de vínculo que pretendo estabelecer com meu

cliente. Esta postura estará embasada em minha visão de homem e de mundo

e será coerente com minha abordagem de atendimento psicológico. As

abordagens psicológicas possuem diferentes visões do ser humano no mundo

e isto influencia de forma marcante sua prática, na medida em que sustenta

variados estilos, posturas e técnicas, além de priorizarem informações

diferenciadas durante o processo terapêutico, inclusive durante a primeira

entrevista. No presente artigo reflito sobre a primeira entrevista em psicoterapia

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baseada no referencial da Gestalt-terapia, abordagem que escolhi para

desenvolver todo o meu trabalho clínico e que norteia meus objetivos no

trabalho terapêutico, como coloca YONTEF (1998) O Gestalt-terapeuta alega

não curar nem condicionar — mas se percebe como um observador do

comportamento real e um guia do aprendizado fenomenológico do paciente.

Neste contexto acredito que o objetivo de um processo terapêutico é dar

condições para que a pessoa se desenvolva, ampliando a sua própria

consciência, aprendendo sobre ela mesma e sobre suas características através

das trocas estabelecidas entre terapeuta e cliente nesse processo. Como

RIBEIRO (1985, apud SILVEIRA, 1997) coloca:

Encontro existencial significa encontro real entre duas pessoas,

numa relação paritária, onde ambos estão sob uma única luz: o fato

de estar e de ser no mundo, numa tentativa de compreender, de

experienciar; de reavaliar, de fortalecer, de singularizar o que

significa, de fato, existir. Desejamos recuperar a integridade do ser

humano, e desejamos fortalecer o seu movimento interno para a

harmonia, lutando contra toda forma de dicotomia. (p. 34)

Os seres humanos desde o nascimento se encontram em relação uns com os

outros. Nessa relação, desenvolvem suas potencialidades e vivem suas

maiores dificuldades também. Quanto mais uma pessoa conhece sobre seu

modo de estar em contato com o mundo, mais ela pode se permitir escolher

opções mais saudáveis para ela mesma. Cabe aqui ressaltar que este

“conhecer” a que estou me referindo não se restringe a um “conhecer” teórico

(racional) e sim a um “conhecer” mais amplo experiencial (total).

3. O primeiro contato com o cliente

O contato com o cliente já se inicia geralmente pelo telefone ou, como tem sido

freqüente hoje em dia, por e-mail. É muito importante estarmos atentos às

informações que recebemos já nesses contatos, não só diretamente, mas

também nas entrelinhas, porém sem ficar rigidamente presos a elas e

tampouco sem fechar diagnósticos definitivos nesta etapa. Esse é o momento

do terapeuta obter informações, de abrir leques de possibilidades, de ficar

curioso em relação ao cliente e a seu estilo de vida e não de se limitar a

encontrar explicações causais e definitivas em relação à pessoa que acaba de

entrar em contato com ele. O terapeuta guarda estas informações e irá

entendê-las melhor com o tempo, tendo em mente que naquele comento ainda

não tem como fechar suas hipóteses. Citando JULIANO (1999): “Até aqui, já

coletei uma quantidade de informações não verbais. Como decodificá-las e o

que vou fazer delas ainda não sei. Ficam guardadas para uso posterior.” (p.27)

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Considero importante levar alguns tópicos em consideração em relação à

forma como o cliente chega até o terapeuta, como por exemplo: a forma o

cliente chega até o terapeuta, contato no momento da marcação da entrevista

inicial, sua postura na sala de espera e como se dá o primeiro contato

propriamente dito. Estes dados já podem dar pistas sobre características do

cliente, sua forma de estar no mundo, suas escolhas pessoais e como isso

reverbera no próprio terapeuta. Algumas perguntas que o terapeuta pode se

fazer e de alguma forma encontrar as respostas, entre outras, são úteis no

sentido de nortear essa busca de compreensão mais ampla desta pessoa que

o terapeuta está conhecendo:

· A chegada do cliente até o terapeuta:

Como esse cliente chegou até mim? Veio por indicação de alguém que me

conhece? Leu no livro de convênio e gostou do meu nome? O meu Consultório

fica em bairro de fácil acesso para ele? Gostou da divulgação que faço do meu

trabalho? Assistiu a alguma palestra minha? Achou minhas informações na

internet? Quer ser atendido por um terapeuta que trabalhe em minha

abordagem? Quer ser atendido por um homem ou por uma mulher?

· Contato no momento da marcação:

Qual o empenho, flexibilidade e disponibilidade do cliente para nosso primeiro

encontro? Ele dá várias opções de horários ou é rígido e inflexível?

Conseguimos chegar rapidamente a um consenso? Ele fica indeciso em

relação ao horário proposto? Após a marcação ele busca fazer alterações no

horário? Desmarca e remarca seguidamente as consultas?

· Postura na sala de espera:

Chega no horário? Muito antes ou atrasado demais? Chega sozinho ou vem

acompanhado? Aguarda tranqüilo(a) a hora de ser atendido? Fala sem parar?

Faz muitas perguntas? Observa os mínimos detalhes?

· Primeiro contato propriamente dito:

Qual a minha sensação inicial ao me deparar ao vivo com aquela pessoa?

Sinto vontade de me aproximar, ficando curiosa ou sinto vontade de me

afastar? Consigo empatizar com a sua dor? Percebo coerência entre o seu

discurso e sua expressão corporal? Tenho algum tipo de estranheza neste

contato?

Explorar estes pontos tem me ajudado bastante no sentido de construir uma

imagem inicial em relação ao cliente que chega para procurar ajuda, ampliando

o olhar a respeito do que ele está buscando neste processo terapêutico e sobre

como o terapeuta poderá ou não acompanhá-lo, como coloca JULIANO (1999):

No dia e hora marcados, ele chega e toca a campainha. Continua

aqui a percepção da estrutura de seu comportamento. Como é esse

toque: forte, insistente, ou tímido e quase inaudível? Chega antes da

hora, pontualmente ou se atrasa?... Fico ao mesmo tempo atenta a

mim mesma, ao meu próprio fluxo perceptual. O que sinto, o que

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penso, que imagens brotam em mim, reações corporais, a minha

postura... (p.27)

A acolhida do terapeuta neste primeiro momento do processo terapêutico é um

ponto muito importante de ser observado, pois vale sempre lembrar que o

cliente que vem procurar uma psicoterapia está ali porque de alguma forma

está sofrendo. É fundamental que se busque facilitar esse primeiro contato

para o cliente, ou pelo menos, que não criar ainda mais obstáculos para o que

já deve estar sendo muito difícil. Não existe uma receita pronta ou um manual

que dê conta de todos os tipos de clientes e nem de todos as possibilidades de

encontro. Porém é responsabilidade do terapeuta estar atento para as

dificuldades surgidas neste primeiro contato e procurar facilitar com que o

cliente possa expressar-se de acordo com suas potencialidades. Cada cliente e

cada terapeuta tem suas características e necessidades peculiares e é vital

que o terapeuta busque estar atento para “Aquele cliente” que está a sua

frente. Alguns clientes esperam um terapeuta caloroso e envolvido com seus

temas, outros entendem uma postura mais próxima como invasiva. Como não

existe um manual que dê conta de todos os tipos de pessoas e do que estas

precisam, o terapeuta usa como recurso a própria relação que está

estabelecendo com o cliente como termômetro para guiar a aproximação

possível a cada momento.

Uma ferramenta muito útil que pode ser usada para facilitar esse momento

inicial é checar diretamente com o cliente como é para ele estar ali com uma

pessoa “desconhecida” falando sobre o que o trouxe até ali. É importante

transmitir para o cliente que esse é um primeiro momento e que estarão se

conhecendo à medida do possível, no ritmo que for confortável para ambos.

Dessa forma muitas vezes diminuímos a ansiedade do cliente de ter que em

uma única sessão contar toda a sua história de vida e, além disso, temos um

mapa mais próximo da realidade que o cliente está vivendo no contato com o

terapeuta. Em algumas situações terapeuta pode sinalizar, pontuar e trazer

também os aspectos positivos do discurso do seu cliente de forma a ajudá-lo a

ampliar sua visão de si próprio e de suas potencialidades, tornando muitas

vezes este primeiro contato mais ameno e menos ameaçador para o cliente.

O ideal é ir observando esta pessoa que está na minha frente com suas

particularidades e verificar por onde posso seguir, usando minha sensibilidade

e o diálogo com o cliente como guias. Começo logo perguntando sobre o

motivo que a trouxe até ali ou será mais interessante comentar um assunto

mais leve, agradável e corriqueiro só para dar uma “aquecida”? Este é

momento do rapport , em que o terapeuta busca ser acolhedor acompanhando

aquela pessoa, porém tendo a noção da proposta daquele contato. Permite que

ele fale sobre o que a trouxe até ali (sua queixa), está atento ao que quer saber

sobre aquela pessoa naquele momento, buscando relacionar o que é dito pelo

cliente com sua forma de falar. O Psicólogo pode checar com o cliente o que

ele espera de uma psicoterapia, quais são os seus objetivos com aquele

tratamento, não deixando de estar presente e de acompanhar o ritmo que é

possível para aquela pessoa naquele momento. É importante cuidar para que

“rótulos” ou “patologizações” não fiquem entre o terapeuta e seu cliente, pois

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ao invés de serem úteis, quando se tornam rígidas acabam ofuscando a visão

que temos do cliente. Estes rótulos muitas vezes até acabam embotando a

curiosidade natural e necessária do terapeuta. Afinal rigidez lembra

insegurança, citando Augras (1986): “...a insegurança, todo psicólogo sabe

disso, é mãe da rigidez.” (pg 8)

Cuidar da linguagem usada com seu cliente também é muito importante. Vale a

pena evitar o constrangimento pelo uso de palavras técnicas ou muito

diferentes das que o cliente tem em seu vocabulário. Caso se perceba a

possibilidade de impasses com a linguagem, uma boa idéia pode ser combinar

com o cliente que, caso não entenda algo que o terapeuta fale, ele (cliente)

pode checar a qualquer momento o que foi dito de forma a facilitar a

comunicação de todos. O terapeuta também poderá tirar dúvidas em relação a

termos usados pelo cliente, pois esta regra é válida para os dois lados.

Uma situação ligada à comunicação que muitas vezes acontece durante o

processo terapêutico e em especial durante a primeira entrevista é o cliente

chegar para a sessão, acabar não conseguindo se expressar verbalmente e

ficar em silêncio. A situação do cliente ficar durante determinado tempo em

silêncio, parecendo distante ou insatisfeito, muitas vezes gera certo

desconforto, tanto no terapeuta quanto no próprio cliente. Mais uma vez digo

que não há uma receita, pois cada pessoa tem necessidades diferentes em

momentos diferentes. Considero que muitas vezes vale checar como está para

o cliente aquela situação. O fato de se explicitar algo que está acontecendo ali,

ao vivo e a cores, muitas vezes suaviza a situação, pois amplia possibilidades

de troca entre terapeuta e cliente. Já vivi diversas situações em que o cliente

me pediu para iniciar com algumas perguntas para ajudá-lo e isso funcionou

muito bem. Penso que nem sempre deixar a pessoa em silêncio, deixando-a

livre para falar quando quiser, vai favorecer com que ela se sinta mais à

vontade no contato pessoal e ser o melhor caminho terapêutico para ela.

Porém, vale lembrar que para algumas pessoas, o fato de lidar com esse

momento em um ritmo mais lento, se permitindo ficar em contato com o seu

silêncio é a melhor solução.

Em relação à questão do silêncio não devemos esquecer de que tipo de

primeira entrevista estamos falando, de qual é o seu objetivo principal. No caso

de uma entrevista inicial de avaliação em uma instituição, como por exemplo a

clínica social do Instituto em que trabalho , é fundamental que se encerre essa

sessão tendo obtido as informações necessárias para que se possa definir o

caminho em termos de tratamento que aquele cliente terá. Neste sentido é

importante estar atento para conseguir, respeitando o ritmo do cliente, (sempre)

as informações básicas para esta definição. É claro que sempre é possível,

mesmo na clínica social marcar um novo encontro para compreender melhor o

que esta pessoa está vivendo, porém esta não é a regra e sim a exceção neste

Instituto. Deve-se levar em conta que na maioria das vezes o terapeuta que

realiza esse primeiro contato não será o mesmo que irá acompanhar aquele

cliente ao longo de seu processo terapêutico . No caso de um atendimento em

consultório particular isso se torna menos rígido, pois o entrevistador pode

contar com mais encontros para definir este caminho e ir construindo aos

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poucos um vínculo mais forte, preenchendo aos poucos as lacunas que ficarem

da história de vida do cliente.

Com alguns clientes o ideal é aguardar o seu ritmo e permitir que ele lide com o

silêncio em seu tempo. O fundamental é que o terapeuta observe como é para

ele próprio lidar com o silêncio do cliente e diferencie o que é necessidade do

terapeuta em manter um diálogo e o que é necessidade do cliente.

4. Preparação para a primeira entrevista

É fundamental que o terapeuta tenha um certo planejamento para a realização

da primeira entrevista de acordo com os seus objetivos em relação à mesma,

em termos dos itens que deseja explorar durante a mesma e também do

ambiente físico em que a mesma irá se dar. Não é necessário que seja nada

rígido, porém é importante que o terapeuta tenha um mapa básico para aquele

primeiro contato. Irei ressaltar alguns itens para observarmos neste sentido

como: o objetivo daquele encontro, apresentação e organização do ambiente,

apresentação do terapeuta, a duração ideal para o atendimento e o valor a ser

cobrado.

a) Objetivo daquele encontro

A primeira entrevista de um processo psicoterapêutico é um encontro de duas

ou mais pessoas com histórias diferentes, que nunca se viram antes e que vão

começar a criar uma intimidade. É o momento em que o terapeuta começa a

conhecer aquela pessoa ou grupo de pessoas, suas histórias, belezas e

dificuldades. Ele vai começando uma espécie de viagem, lembrando que, de

certa forma, naquele contexto ele (o terapeuta) é o responsável ou o guia que

tem a responsabilidade de direcionar com sua experiência e técnica aquele

encontro para que este possa ser melhor aproveitado. É importante ter em

mente que aquele cliente que nos procura veio pedir ajuda porque não anda

bem e, na maioria das vezes inclusive, não tem a menor idéia de como

funciona um processo psicoterapêutico e se aquele tratamento vai melhorar

alguma coisa em sua vida. Ele não conhece as “regras do jogo”, e precisa de

algum tempo para sentir-se confortável. A primeira entrevista permite, entre

outras coisas, que o cliente tire algumas dúvidas pessoalmente como, por

exemplo: o que se faz em uma terapia, qual é o preço das sessões, forma de

pagamento, quantas sessões serão necessárias por semana, qual a duração

média do tratamento, se este é o melhor tratamento para o seu caso, entre

outras.

Para o melhor aproveitamento da primeira entrevista é fundamental que o

terapeuta tenha clareza de seu objetivo naquele momento. É uma entrevista

inicial de atendimento individual, de casal, de família ou é uma entrevista de

avaliação e encaminhamento? É importante que o objetivo daquele encontro

fique bem explicitado também para seu cliente. Por exemplo, em casos de

avaliação em uma instituição é fundamental que isso seja clarificado para o

cliente de forma a que ele não se sinta frustrado ao final da sessão em suas

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expectativas de início de atendimento imediato, quando não há previsão de

atendê-lo prontamente.

No caso da clínica particular pode também ser um momento de verificação por

parte do terapeuta de sua disponibilidade para acompanhar aquele cliente ou

não dali em diante.

b) Preparação do ambiente

A preparação do ambiente também é uma etapa bastante significativa para

facilitar o bom andamento da primeira entrevista. Estarei recebendo em meu

consultório pela primeira vez uma pessoa que não me conhece e, como

quando recebo um convidado em minha casa, sou responsável pelo seu

conforto e segurança. A sala deve ser na medida do possível confortável e

segura para todas as pessoas que comparecerem a consulta, tendo, por

exemplo, lugares adequados para que todos se acomodem. A estética da sala

também deve ser observada, devendo o local ser atraente, organizado,

arejado, limpo e com iluminação confortável. É importante que a sala seja

aconchegante para o cliente e principalmente para o terapeuta. Este precisa

sentir-se em casa, tendo a mão o material necessário ao seu trabalho e

conforto, como agenda, lenços de papel, ficha do cliente, canetas entre outros.

Uma atenção especial merece ser dada em relação à acústica da sala. O

terapeuta precisa observar se o espaço onde realizará a entrevista é preparado

para que não vaze som, isto é, para que o que é dito dentro da sala de

atendimento não possa ser ouvido pelas pessoas que não estão na sala de

atendimento. Muitas vezes um som ambiente na sala de espera já ameniza o

problema. Porém, isso deve ser muito bem observado para que se mantenha a

segurança do sigilo terapêutico.

Outro ponto importante a verificar é quanto ao material necessário para o

atendimento com crianças. É útil cuidar para que neste material não se tenha

nada que ofereça risco (coisas que quebrem, cortem ou machuquem a criança.

O ideal é contar na sala com pelo menos papel, lápis e alguns brinquedos

(carrinhos, bonecas, jogos adequados para diferentes faixas etárias) e que não

deixar ao alcance das crianças objetos que não podem ser manipulados por

elas.

c) Apresentação do terapeuta

Quando me preparo para o primeiro encontro com alguém é comum que me

preocupe também em relação à roupa que vou usar, a minha aparência

externa. Lembrando que a primeira impressão pode marcar e que neste

momento inicial muitas vezes a relação terapêutica ainda não tem um lastro,

um suporte sólido, é importante estar atento ao que posso transmitir em

relação ao que estou trajando. A idéia não é se “fantasiar”, como se existisse

uma roupa ideal para ser usada por psicólogos. Busco usar uma roupa

coerente com a minha proposta de ser terapeuta. Não de uma forma

automática, mas sim com atenção, pois não conheço suficiente ainda aquela

pessoa que está diante de mim. Procuro escolher uma roupa que seja

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confortável para que eu não precise me ocupar dela ao invés de me ocupar do

cliente que está a minha frente. Neste sentido evito saias curtas, decotes

exagerados, transparências, mangas que me incomodem, calças ou cintos

apertados e botões que não param fechados.

d) Duração prevista para aquela sessão

Com relação à duração da entrevista é importante que eu saiba e tenha o

controle de quanto tempo disponho para estar com aquela pessoa. É meu

dever como terapeuta administrar o tempo da sessão para que todas as etapas

deste encontro sejam cumpridas. Normalmente a duração de uma primeira

entrevista individual é de 50 minutos, a de casal e família é de 1 hora e quinze

minutos e a de grupo 1 hora e 30 minutos. Considero importante que o cliente

seja informado de quanto tempo dispõe logo no início da sessão. Em algumas

situações podemos precisar estender um pouco esse tempo no primeiro

encontro, porém vale salientar que isso não deve ser uma constante e sim uma

exceção, pois as regras são muito importantes para o bom desenvolvimento de

um processo terapêutico.

e) Valor a ser cobrado pela primeira entrevista

Assim como em qualquer outra profissão liberal, o valor dos serviços prestados

pode variar de profissional para profissional ou até mesmo em alguns casos de

cliente para cliente. Considero importante que o terapeuta tenha clareza do

valor do seu trabalho, do seu tempo e de quanto vai cobrar por aquele

atendimento. O ideal é que o terapeuta tenha bem estabelecido para si próprio

o valor que considera justo por seu trabalho e qual a margem que pode ter no

sentido de um valor mais accessível para seu cliente. É tarefa do terapeuta

estabelecer o preço e qual a sua flexibilidade de negociação. Ter noção desses

limites facilita ao terapeuta no sentido de estabelecer seus contratos com seus

clientes. Muitas vezes o terapeuta vive uma recompensa muito maior em

termos de gratificação pessoal no contato com determinados clientes que não

podem pagar seu “valor de sessão” do que com outros que se enquadram

neste quesito. Estar constantemente atento às suas necessidades e

possibilidades amplia a gama de recursos de que o terapeuta poderá lançar

mão. Não podemos perder de vista nossas necessidades e prioridades em

nossa profissão. Muitas vezes não é possível atender todas as pessoas que

gostaria por preços muito abaixo do valor ideal em função de meus

compromissos financeiros. Porém sempre é bom lembrar de ter uma margem

para situações especiais.

Considero importante também que se busque encontrar um valor que fique

confortável para os dois lados (terapeuta e cliente). Alguns itens são bastante

interessantes de se observar no sentido de determinar este valor, como por

exemplo: quem é aquela pessoa com quem você está se encontrando? Com

quem ela vive? Onde ela mora? Existe alguém que irá ajudá-lo (a) em relação

aos custos do tratamento e qual é o grau de parentesco com essa pessoa?

Quais suas atividades prioritárias? Do que ela está abrindo mão para estar

comprometida com esse tratamento? Na medida em que tenho mais dados

sobre o contexto em que meu cliente está inserido, posso verificar minha maior

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ou menor disponibilidade para flexibilizar meu valor a partir de suas

possibilidades de investimento no processo terapêutico. Outra referência muito

útil na determinação do valor da consulta é pesquisar o mercado de psicólogos

e qual o valor que tem sido cobrado em média pelos colegas. Essa informação

pode ser obtida informalmente, conversando com outros colegas sobre o

assunto ou através da tabela do CRP.

Em relação à periodicidade do pagamento, alguns terapeutas optam pelo

pagamento por sessão e outros determinam períodos definidos no mês. Este

também é um item que vai depender do estilo e das características do

profissional. Neste sentido eu não tenho uma postura rígida, apenas saliento

para meu cliente a importância de que se estabeleça e cumpra uma regra para

nortear este assunto desde o início do tratamento.

Cobrar ou não a primeira entrevista é uma dúvida muito comum entre os

psicólogos. Esta decisão vai variar de profissional para profissional de acordo

com suas características pessoais e profissionais naquele momento. Esta

decisão traz vantagens e desvantagens, como muitas outras na vida. Como

vantagem para não se cobrar por esse primeiro encontro ressalto que desta

forma podemos facilitar a chegada do cliente ao consultório para um primeiro

contato ao vivo com o terapeuta. O cliente, ao marcar a consulta, na maioria

das vezes pergunta sobre o preço. A pessoa que nos procura, principalmente o

cliente leigo (isto é, que não trabalha na área de saúde), em alguns momentos

se assusta com o valor proposto. Até por não ter uma noção clara do que é um

processo terapêutico e dos seus objetivos muitas vezes, quando não tem a

oportunidade do primeiro encontro e de maiores esclarecimentos ao vivo,

desiste da terapia por achar o tratamento muito caro. O terapeuta também não

tem a oportunidade de verificar a possibilidade de alguma negociação dos seus

honorários. Muitas vezes, após este primeiro contato, fica mais fácil

estabelecer um vínculo e estipular melhor o valor das consultas. Esta

flexibilidade inicial pode facilitar até para que se defina a indicação adequada

no caso de se iniciar ou não um processo terapêutico Individual, em grupo, de

Casal ou Família.

Como qualquer outro profissional, o psicólogo deve ser remunerado por sua

hora de trabalho. Quando escolhe não cobrar a primeira sessão o profissional

está dedicando ao seu trabalho um tempo que não está sendo remunerado

diretamente. Este fato muitas vezes gera certo descompromisso e frustração

no profissional quando esta não é cobrada. Por isso a decisão de não cobrar

precisa ser muito bem tomada, pois ela é do terapeuta e não do cliente, e este

merece ser bem recebido sempre. Além disso, para alguns clientes este

procedimento pode soar como uma forma de ser persuadido a iniciar o

tratamento. Neste sentido o objetivo do encontro precisa ser muito bem

contextualizado.

5. Desenvolvimento da primeira entrevista

Ao receber um cliente é importante ouvir com atenção a queixa que o trouxe ao

consultório, explorando e buscando identificar ao máximo o que o levou a

13

buscar a terapia. Nem sempre a queixa que o traz no primeiro momento para o

processo terapêutico é a que vai se delineando ao longo do tratamento como

prioridade absoluta. Na primeira entrevista busco conhecer de forma bem

ampla o cliente que está me procurando. Para nortear a primeira entrevista,

além da queixa inicial do cliente, tendo a pesquisar algumas áreas significativas

da sua vida, como por exemplo: família, vida afetiva, vida social, profissão e a

sua religião. Considero importante prestar atenção para não “enferrujar”, para

não trabalhar de forma automatizada, fazendo uma “anamnese padrão”, sem

estar atenta às peculiaridades de quem está a minha frente. Muitas vezes estes

itens me ajudam a ampliar este olhar inicial e os dados podem ser colhidos

perguntando diretamente sobre cada um deles ou apenas observando-os no

relato livre do cliente. Até mesmo a ausência de referência sobre algum deles

pode ser bastante significativa neste primeiro contato para a compreensão

mais global do cliente. Quero lembrar que com isso não estou propondo que

tenhamos que checar todas as áreas com perguntas diretas, independente do

que o cliente queira trazer neste momento inicial, porém considero interessante

usar esses itens como referência para um “mapa” básico do cliente que me

procura pela primeira vez. Abaixo relaciono algumas perguntas em relação às

áreas que mencionei acima que tendo a ter em mente quando recebo um novo

cliente. Faço isso com o objetivo de compartilhar com o leitor algumas

possibilidades que tendo a utilizar, porém cabe ressaltar mais uma vez que

cada entrevista e cada cliente é único e por isso merece uma condução de

acordo com o que está presente no momento naquela relação que está sendo

estabelecida. A partir do que vou colhendo como informação vou construindo

junto com meu cliente uma referência em relação ao seu momento de vida.

Família

Quem ele(a) denomina como sua família? Qual o vínculo que estabelece com

essas pessoas? Com quem mora? Se a pessoa ainda mora com a família de

origem: como é o seu relacionamento com eles? Com quem divide o quarto e

como é feita essa divisão? Quem trabalha na casa? Como a família utiliza o

tempo que tem livre? Se é casado(a): Como foi a transição de filho(a) para

marido/esposa? Como é o relacionamento com a esposa/marido? Como o

casal aproveita o tempo livre? O casal tem privacidade? Tem filhos? Foram

planejados? Está satisfeito(a) com a maneira de viver em casal ou esperava

outra coisa? O que? Qual é o estado atual do casamento?

Cada uma das respostas possíveis a estas questões dá margem a que se

perceba com mais clareza aquela pessoa que está a nossa frente. A família é o

primeiro grupo social do qual fazemos parte. Ela influencia de forma marcante

a nossa história e nós também a influenciamos. Conhecer sobre as relações

que o cliente estabelece com seu grupo familiar pode dar um panorama mais

amplo daquela pessoa. Até mesmo o fato dele não mencionar, ou diminuir a

importância deste grupo em sua vida, já nos traz informações e pode servir

para ampliar o nosso olhar sobre ele.

Vida afetiva

14

É casado(a)? Solteiro(a)? Separado(a)? Tem namorado(a)? O que costumam

fazer juntos? É agradável estarem juntos? Possui algum outro tipo de

relacionamento afetivo? Para que ele serve? Que espaço ocupa em sua vida?

Seu parceiro é livre? Ou tem outro relacionamento? Tende a ter

relacionamentos longos ou curtos?

Assim como na área familiar, na forma como se encontra a vida afetiva do

cliente também temos subsídios para entender e conhecer melhor aquela

pessoa. Muitas vezes esta área chega como a que mais concentra as queixas

iniciais de um processo terapêutico. Seja por ser movimentada ou parada

demais.

Vida social

Como utiliza o seu tempo livre? Tem amigos? Gosta de estar com eles? Tem

feito o que gosta ultimamente? Se não, qual o motivo? Os melhores amigos

foram conhecidos recentemente? Ou tem amigos de muitos anos?

A vida social nos remete a como esta pessoa estabelece e cuida de seus

vínculos de amizade e a como ela tende a se relacionar com o mundo fora do

âmbito íntimo (família e relacionamentos afetivos). Observar como o cliente

investe em áreas fora da família e relacionar com sua queixa inicial pode

muitas vezes nos indícios ricos sobre sua forma de funcionar no contato

interpessoal.

Profissão

Com o que trabalha? Como escolheu esta profissão? Como se sente

exercendo essa função? Como é o seu ambiente de trabalho? Relaciona-se

bem com as pessoas com quem trabalha? Há quanto tempo está nesse

emprego? Tem alguma outra proposta em vista? Pensa em aceitá-la? Por quê?

Qual o sentimento presente a caminho do seu trabalho?

A vida profissional fala também sobre como a pessoa lida com seus

compromissos, prioridades, seus valores, suas metas em relação à vida, seus

interesses e sua busca por autonomia ou dependência. O fato de um cliente

estar ou não satisfeito com sua escolha profissional e de como lida com este

contexto, pode nos dar referências úteis sobre sua forma de lidar com

situações de impasse em sua vida. Outro ponto relevante é o de podermos

observar o quanto fica acomodado ou não em relação a sua situação

financeira.

Religião

Tem alguma religião? É praticante? Sempre ou só recorre a religião quando

mais precisa? Costuma freqüentar a igreja, culto, centro espírita? Caso

contrário, pratica algum ritual religioso na sua própria casa? Costuma rezar?

Em quais momentos?

15

A religiosidade traz à tona os valores e crenças pessoais. A forma como

estabelece seu vínculo religioso e inclusive a variação constante neste sentido

já pode nos dar amplos sinais do contexto atual. Checar essas informações

também nos ajuda a compreender melhor algumas posturas de vida, já que

sabemos que determinadas religiões exigem padrões rígidos de

comportamento ou atitudes que fora do contexto da fé, podem parecer

absurdas. Aqui cabe lembrar também que no Brasil, país em que vivo, temos

uma gama enorme de religiões diferentes sendo praticadas de forma intensa.

Finalizando a lista de questionamentos que costumo ter em mente na primeira

entrevista acrescento também a possibilidade de checar sobre outros

tratamentos simultâneos que estejam sendo realizados. Inclusive tendo a

perguntar sobre o uso de algum medicamento, pois isso pode nos contar sobre

sua saúde física e sobre alguns efeitos colaterais que interferem em outras

esferas da vida do cliente. Todos os itens citados podem ser observados em

qualquer primeira entrevista em psicoterapia com adultos ou crianças, seja ela

voltada para o atendimento individual, familiar, de casal ou de grupo.

Especialmente no caso de primeiras entrevistas com a presença de algum

familiar ou com famílias, casais ou grupos além de tudo o que foi exposto

acima considero importante estar atenta para poder dar voz a todos os

presentes. É busco não fazer alianças rígidas com este ou aquele membro do

grupo que estou conhecendo, mas sim facilitar um clima de confiança e de

abertura para que todos possam se colocar livremente. Uma frase que muitas

vezes eu uso neste contexto é que ali com eles eu sou psicóloga e não juíza e,

desta forma, não estou ali para julgar quem está certo ou errado e sim para

ajudá-los a encontrar uma maneira mais saudável e funcional de se

comunicarem.

Encaminhamento do tratamento

Um aspecto importante da primeira entrevista é o que acontecerá depois dela,

isto é qual será o encaminhamento em termos do tratamento adequado para as

necessidades e possibilidades do cliente. Neste sentido é útil que o terapeuta

conheça das várias formas possíveis de atendimento (individual, em grupo ou

familiar) para fazer uma indicação adequada e funcional. Para fazer isso busco

estar atenta e sensível para observar os fenômenos presentes durante aquele

contato, checando junto com o cliente as diversas possibilidades e tentando

adequar o ideal de indicação com o possível para aquele cliente naquele

momento. Outro ponto importante é ter informações sobre os diferentes

serviços de saúde existentes para a orientação ao cliente que me procura, pois

muitas vezes se faz necessário o encaminhamento para outras instituições.

Contrato para os próximos encontros

Ao final desse primeiro contato definiremos o cliente e eu sobre a necessidade

e importância do tratamento. Caso fique definido que iremos iniciar o

tratamento, considero fundamental estabelecer claramente para o cliente como

acontecerão os nossos próximos encontros e sobre as regras de

funcionamento de nossa relação terapêutica. Após apresentar minha proposta

16

verbalmente, esclarecer todas as dúvidas que o cliente venha a ter e fazer

todos os ajustes necessários para o bom andamento da terapia, faço a leitura

de um contrato escrito com as regras que combinamos, onde assinamos ele e

eu em duas vias, ficando uma comigo e outra com o cliente. Este contrato é

lido ao final da sessão e seus diversos tópicos são discutidos em detalhes até

que não fique nenhuma dúvida. Seguem em anexo no final deste artigo os

modelos de contrato de atendimento individual, de grupo e de família utilizados

na clínica social do Instituto em que trabalho como ilustração de possibilidades

de contratos escritos.

Quando as regras são estabelecidas de forma clara e precisa as chances de

impasse diminuem. Citando SILVEIRA (1997):

Considero aquilo que chamamos de contrato terapêutico como muito

importante para o desenrolar do processo. O maior índice de

desistência na psicoterapia é devido a mal-entendidos no contrato.

Penso, então, no papel do terapeuta, no sentido de passar as

informações de forma clara para que o cliente saiba o que ele nessa

relação pode receber, com o que ele pode contar, até onde pode ir e

decidir se aceita ou não as condições. Se por um lado quem

estabelece as regras do contrato é o terapeuta, cabe ao cliente

manifestar a sua opinião. Essa é mais uma oportunidade de verificar

como o cliente se relaciona com as propostas do terapeuta. (p13.)

Considerações Finais

O tema “primeira entrevista em psicoterapia” é bastante instigante e sempre

terei mais coisas para acrescentar ou discutir a respeito. Neste momento estou

optando por ressaltar estes tópicos, sabendo que sempre teremos outros

igualmente importantes para aprofundar. Foi necessário eleger alguns, sendo

esta a minha escolha no momento. Espero ter podido de alguma forma

contribuir para a reflexão dos leitores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGRAS, M. (1986) – O Ser da compreensão: fenomenologia da situação de

psicodiagnóstico – Petrópolis: Vozes.

JULIANO, J. (1999) – A arte de restaurar histórias – Um diálogo criativo no

caminho pessoal. São Paulo : Summus.

RIBEIRO, J. E (1985) - Gestalt-terapia: Refazendo um caminho. São Paulo:

Summus.

17

SILVEIRA, T. M. (1997) – A Gestalt no contexto da Psicoterapia: Teoria e

metodologia aplicadas a um caso clínico. Presença: Revista Vita de Gestaltterapia

(Ano 3 – Número 4) : 4-27.

YONTEF, G. M. (1998) - Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo: Summus.

ANEXO 1

CONTRATO DE ATENDIMENTO INDIVIDUAL - Clínica Social

Horário

O atendimento tem a duração de 50 minutos, sendo realizado em horário

combinado com antecedência, estando o terapeuta a disposição do cliente

naquele período. Como trabalhamos com hora marcada a pontualidade é

fundamental, não sendo possível estender o horário para além dos 50 minutos

previstos, mesmo em caso de atraso do cliente.

Em casos de atraso do terapeuta, na medida do possível, ocorrerá a

compensação para além do horário acordado ou em sessão subseqüente

(Combinação a ser feita oportunamente).

Dia da semana: _____________ Horário: _________________

Honorários

O valor da sessão é R$________(__________________________________) e

o pagamento será feito sempre _____________________________________.

O pagamento será efetuado diretamente ao terapeuta nas datas combinadas

no dia da primeira entrevista. Sessões em que o cliente desmarca ou não

comparece são cobradas normalmente independente de qualquer justificativa.

Qualquer alteração no contrato ou reajuste somente poderá acontecer com o

conhecimento e a autorização da direção do Instituto.

Faltas

Não serão permitidas 2 (duas) faltas consecutivas durante o tratamento. Na

segunda falta, avisada ou não, o atendimento será considerado interrompido e

o cliente perderá esta vaga.

Desmarcações ou mudanças de horário

Mudanças de horário só serão possíveis quando houver disponibilidade do

terapeuta e da sala.

Profissionais

Os profissionais que realizam este atendimento têm convênio firmado com a

Clínica ou fazem parte do Curso de Aperfeiçoamento de psicólogos da mesma.

18

Supervisão

Os atendimentos serão supervisionados pelo(s)

Psicólogo(s)_______________________

Psicoterapia

O atendimento psicoterápico terá como a duração inicial de seis meses, sendo

realizada uma avaliação por parte do(s) terapeuta(s) e do(s) cliente(s) após

este período, verificando-se, assim, a necessidade de recontratação.

Nome do Cliente:_________________________________________________

Assinatura:_______________________________________Data:___/___/____

Terapeuta:_______________________________________________________

CONTRATO DE ATENDIMENTO - Atendimento em Grupo – Clínica Social

Horário

O atendimento tem a duração de 90 minutos (1 hora e 30 minutos) sendo

realizado em horário combinado com antecedência, estando o(s) terapeuta(s) a

disposição do grupo naquele período. A pontualidade é fundamental, não

sendo possível estender o horário para além dos 90 minutos previstos (1 hora e

30 minutos), mesmo em caso de atraso do cliente. Em casos de atraso do(s)

terapeuta(s), na medida do possível, ocorrerá à compensação para além do

horário acordado ou em sessão subseqüente (Combinação a ser feita

oportunamente). Qualquer mudança de horário só se faz possível com a

concordância de todos os membros do grupo e do(s) terapeuta(s).

Honorários

O valor da sessão é R$

R$____________(__________________________________) e o pagamento

será feito sempre ____________________________________________.

O pagamento será realizado diretamente ao(s) terapeuta(s) nas datas

combinadas no dia da primeira entrevista. Sessões em que o cliente desmarca

ou não comparece são cobradas normalmente independente de qualquer

justificativa. Qualquer alteração ou reajuste somente poderá acontecer com o

conhecimento e a autorização da direção do Instituto.

Faltas

Não serão permitidas 2 (duas) faltas consecutivas. Na segunda falta, avisada

ou não, o atendimento será considerado interrompido, e o cliente perderá esta

vaga.

Desmarcação

No atendimento em grupo não existe a possibilidade de desmarcação de

sessão. A impossibilidade de comparecimento será considerada falta.

Sigilo

Em nenhuma hipótese o que acontece num atendimento psicoterapêutico em

grupo deve ser relatado no exterior do espaço terapêutico.

19

Sessões individuais em terapia de grupo

A qualquer tempo por iniciativa do cliente ou do(s) terapeuta(s) podem ser

solicitadas sessões individuais, porém será sempre avaliada a necessidade ou

não deste procedimento e a validade das mesmas em relação ao processo

terapêutico.

Filmagem

Qualquer recurso deste tipo só pode ser utilizado com o consentimento de

todos os membros do grupo por escrito.

Entrada e Saída de clientes

A entrada de clientes se dá após comunicação e concordância dos demais

membros do grupo. Em caso de interrupção da psicoterapia o membro do

grupo deve notificar pessoalmente aos outros integrantes, colocando da forma

mais clara possível os motivos que o levaram a tomar tal decisão.

Profissionais

Os profissionais que realizam este atendimento têm convênio firmado com

Instituto ou fazem parte do Curso de Aperfeiçoamento de psicólogos do

mesmo.

Supervisão

Os atendimentos serão supervisionados pelo(s) Psicólogo(s)

______________________.

Duração

Os grupos têm a duração inicial de 12 (doze) meses, sendo realizada uma

avaliação por parte do(s) terapeuta(s) e do(s) cliente(s) após este período,

verificando-se, assim, a necessidade de recontratação.

Dia e horário de funcionamento do

Grupo:_____________________________________

Nome do

Cliente:_________________________________________________________

Assinatura:________________________________________ Data:___/___/__

Terapeutas:______________________________________________________

CONTRATO DE PSICOTERAPIA DE FAMÍLIA

Horário

O atendimento tem a duração de 60 minutos (1 hora) sendo realizado em

horário combinado com antecedência, estando a equipe terapêutica a

disposição da família naquele período. A pontualidade é fundamental, não

sendo possível estender o horário para além dos 60 minutos previstos (1 hora),

mesmo em caso de atraso da família. Em casos de atraso da equipe

terapêutica, na medida do possível, ocorrerá à compensação para além do

horário acordado ou em sessão subseqüente (Combinação a ser feita

oportunamente).

Dia da semana:____________ Horário: _________________

Freqüência____________

20

Honorários

O valor da sessão é

R$____________(___________________________________) e o pagamento

será feito sempre ______________________________________________.

O pagamento será efetuado diretamente à equipe terapêutica nas datas

combinadas no dia da primeira entrevista. Sessões em que a família não

comparece são cobradas normalmente independente de qualquer justificativa.

Qualquer alteração no contrato ou reajuste somente poderá acontecer com o

conhecimento e a autorização da direção do Instituto.

Mudança de horário

Não existe a possibilidade de mudança de horário do atendimento.

Desmarcação e Faltas

A ocorrência de desmarcação de sessão poderá implicar na interrupção do

tratamento. A ocorrência de falta acarretará no cancelamento do atendimento,

levando a família a perder esta vaga.

Duração do Contrato

O atendimento familiar tem a duração de 8 (oito) sessões, na freqüência

quinzenal. Este contrato poderá ser renovado ao final destas 8 (oito) sessões

com a concordância da família e da equipe terapêutica.

Profissionais

Os profissionais que realizam este atendimento têm convênio firmado com o

Instituto ou fazem parte do Curso de Aperfeiçoamento de psicólogos do

mesmo.

Supervisão

Os atendimentos serão supervisionados pelo(s) Psicólogo(s)

______________________.

Nome dos membros da família do cliente:

_______________________________________________________________

Assinatura:_______________________________________Data:___/___/____

Equipe Terapêutica:_______________________________________________

Filmagem

Autorizo a filmagem dos atendimentos para fins de desenvolvimento científico.

Estas imagens só serão compartilhadas em ambientes restritos a profissionais

da área psicológica com fins de estudo e aperfeiçoamento.

Assinatura:_______________________________________Data:___/___/___

Equipe Terapêutica:______________________________________________

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