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Corpos Tagarelas


Dedico este livro aos meus irmãos e
irmã, que mesmo sem a presença
integral de nossos pais em suas
vidas, se tornaram pessoas de bem,
que amam ao seu próximo como a
si mesmos.


AGRADECIMENTOS
Sempre quando lemos a parte que diz
respeito aos agradecimentos do autor de algum
livro, trabalho ou outra obra qualquer, podemos
apreciar o cuidado que se tem de lembrar-se
nominalmente de todas as pessoas queridas:
familiares, amigos, amores, professores e as que,
de alguma maneira, fazem parte da vida de quem
agradece.
Há autores que se lembram primeiramente
de Deus e há os que nem O mencionam. Outros se
lembram, por exemplo, da professora do maternal,
do motorista do ônibus escolar, do vendedor de
pipocas na saída das aulas, enfim, não se trata de
desmerecer que cada pessoa seja lembrada, mas o
que vemos é uma infinidade de nomes que mais
parece uma genealogia bíblica.
É divertido observar o receio que muitos
escritores têm de não esgotarem seus citados e
acabam entremeando agradecimentos e pedidos de
desculpas. Em suma, geralmente os
agradecimentos têm a mesma estrutura literária.
Inspirada em um grande poeta e esquivandome
da banalidade, para agradecer de maneira
singular e sem “genealogias”, deixo registrada a
minha gratidão às pessoas maravilhosas que me
amam e permitem serem por mim amadas, que
impedem que minha vida seja desperdiçada. A
todos aqueles que me ensinam prudência não
egoísta e aos que se arriscam comigo, sem medo
do sofrimento ou da felicidade. Aos que mesmo na
dor me ensinam a optar pela alegria de viver, a
respeitar tudo o que vive e a expressar a infinita
gratidão ao Senhor Criador de todos os entes e de
todos os seres. Sou grata ainda pelas pessoas cuja
passagem por minha vida, seja na dimensão
profissional ou pessoal, incorreu-me algum mal,
pois serviu-me de edificação e aprendizado.
Exercitar o sentimento de gratidão é muito bom
para a unidade mente-corpo. Obrigada a você, que
lendo este trabalho, interage com a minha
essência!



“A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício
da vida está no amor que não damos, nas forças que não
usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que,
esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”.
(Carlos Drummond de Andrade)



RESUMO
O presente trabalho apresenta uma interpretação
do Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH) como a voz do corpo. O
objetivo da pesquisa vai além da investigação das
características comportamentais e do
desenvolvimento psicomotor dessas crianças.
Busca verificar possíveis mudanças
comportamentais após o início do tratamento
medicamentoso e sua eficácia. Pretende-se
verificar a hipótese de que, nas escolas, o TDAH
está banalizado e as crianças sendo medicalizadas
desnecessariamente. A prática consistiu na
aplicação de entrevistas semi estruturadas que
fomentaram o material de análise para a conclusão
da pesquisa. O leitor encontrará nos textos a seguir,
conceitos como saúde, doença, esquema e imagem
corporal, organização psicomotora,
psicomotricidade e TDAH. Um capítulo específico
apresenta noções de limites versus
potencialidades. Boa parte das discussões sobre a
antipsiquiatria e a crítica à supervalorização do
diagnóstico tem por base o pensamento do Dr.
Thomas Szasz A Associação Brasileira do Déficit de
Atenção (ABDA) foi tomada como a principal
referência dos defensores da idéia de que o TDAH
é uma doença, que deve ser tratada e
medicalizada. A análise dos dados apresentados
poderá proporcionar uma compreensão do
desenvolvimento psicomotor das crianças e buscar
um melhor discernimento entre as concepções de
saúde e doença, substanciando o campo da
pesquisa acadêmica, do conhecimento científico,
da promoção de saúde e abrindo possibilidades de
uma existência mais saudável.
Palavras-chave: TDAH. Criança. Organização
psicomotora.


ABSTRACT
This paper presents an interpretation of Attention
Deficit Disorder with Hyperactivity (ADHD) as the
voice of the body. The objective of the research
goes beyond the investigation of behavioral
characteristics and psychomotor development of
children. Search assess possible changes in
behavior after the initiation of drug treatment and its
effectiveness. It is intended to verify the hypothesis
that in schools, ADHD is commonplace and children
are medically unnecessary. The practice consisted
of semi-structured interviews which encouraged the
material analysis to complete the survey. The reader
will find in the following texts, concepts such as
health, disease, schema and body image,
organization, psychomotor, psychomotor and
ADHD. A specific chapter introduces concepts of
limits versus potential. Much of the talk about the
criticism of psychiatry and the overvaluation of the
diagnosis is based on the thought of Dr. Thomas
Szasz The Brazilian Association of Attention Deficit
(ABDA) was taken as the primary reference for
advocates of the idea that ADHD is a disease that
must be addressed and medicalized. The analysis
of the data presented may provide an
understanding of the psychomotor development of
children and seek a better understanding between
the concepts of health and disease, substantiating
the field of academic research, scientific knowledge,
health promotion and opening opportunities for a
healthy existence .
Key-words: TDAH. Child. Psychomotor
organization.
LISTA DE ABREVIATURAS
Ex. - Exemplo
Dr. - Doutor
Drª. - Doutora
Ed. - Editora
nº - número
Org. - Organizador (a)
P. - Página ou páginas
vol. - volume
LISTA DE SIGLAS
ABDA – Associação Brasileira do Déficit de
Atenção.
APA - American Psychiatry Association.
(Associação Americana de Psiquiatria)
CEMAFE - Centro de Medicina da Atividade Física
e do Esporte.
CID-10 – 10º Código Internacional de Doenças.
CNDSS - Comissão Nacional sobre os
Determinantes Sociais da Saúde.
CRP – Conselho Regional de Psicologia.
DCM – Disfunção Cerebral Mínima.
DSM-IV – Diagnostic and statistical manual of
mentals disordrs. (Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais).
DSS – Determinantes Sociais de Saúde.
FGR – Fundação Guimarães Rosa.
IFEN – Instituto de Psicologia Fenomenológico-
Existencial do Rio de Janeiro.
MS – Ministério da Saúde.
NANI - Núcleo de Atendimento Neuropsicológico
Infantil.
OMS – Organização Mundial de Saúde.
RPM – Reeducação Psicomotora.
TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental.
TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade.
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..........................................................
..............................................12
2 REVISÃO DA
LITERATURA............................................................
.......................14
2.1 Saúde:
conceitos..................................................................
..............................14
2.1.1 Segundo a
OMS ..........................................................................
...................14
2.1.2 Segundo o Ministério da Saúde
....................................................................15
2.2 Doença:
conceitos..................................................................
............................15
2.2.1 Segundo a
OMS...........................................................................
....................18
2.2.2 Segundo o Ministério da
Saúde.....................................................................1
82
.3 O que é o
TDAH.........................................................................
.........................19
2.3.1 Informações Nacionais e Mundiais Acerca
do TDAH .................................20
2.3.2 Histórico das Denominações do TDAH
........................................................21
2.3.3
Tipos ........................................................................
........................................22
2.3.3.1 Com
Hiperatividade..........................................................
............................23
2.3.3.2 Sem
Hiperatividade..........................................................
............................24
2.3.3.3
Misto.........................................................................
.....................................24
2.3.4
Características ........................................................
........................................25
2.3.5 Possíveis
Etiologias..................................................................
......................25
2.3.6
Sintomas ..................................................................
.......................................26
2.3.7
Comorbidades .........................................................
.......................................28
2.3.8 Diagnóstico
...................................................................................
..................29
2.3.9 Intervenção e
Tratamento...............................................................
................31
2.3.9.1 Amplo
(Interdisciplinar).......................................................
........................32
2.3.9.2 Metilfenidato: mocinho ou
vilão? ..............................................................33
2.3.9.3 Tratamento segundo a
Psicomotricidade..................................................3
72
.4 A Organização
Psicomotora.............................................................
.................41
2.4.1
Tônus .......................................................................
........................................42
2.4.2 Esquema
Corporal....................................................................
.......................43
2.4.3 Imagem
Corporal ...................................................................
.........................47
2.4.4
Espaço .....................................................................
........................................48
2.4.5
Tempo ......................................................................
........................................49
2.4.6 Organização Psicomotora de Crianças que
Apresentam Sintomas do
TDAH ........................................................................
.................................................49
3 LIMITES X
POTENCIALIDADES................................................
............................51
3.1 A Grande Luta
...................................................................................
.................55
4 DR. THOMAS SZASZ E O MITO DA DOENÇA
MENTAL......................................56
5
DISCUSSÃO ............................................................
..............................................59
6
METODOLOGIA........................................................
.............................................65
6.1 Método
Adotado....................................................................
.............................65
6.2 Sujeitos de
Pesquisa...................................................................
.......................66
7 ANÁLISE DOS
DADOS......................................................................
....................67
8
CONCLUSÃO............................................................
.............................................76
REFERÊNCIAS.........................................................
.................................................80
Apêndice A – Roteiro de Entrevistas Semi
Estruturadas Aplicadas aos pais/mães ou
tutores de crianças com o diagnóstico de
TDAH.........................................................................
.................................................86
Apêndice B – Roteiro de Entrevistas Semi
Estruturadas Aplicadas aos Especialistas
Escolares..................................................................
.................................................87
Anexo A – Modelo do Termo de Autorização
para
Entrevistas...............................................................
.................................................88


12
1 INTRODUÇÃO
“O homem não é nada mais do que aquilo que faz a si próprio”. (Jean-Paul Sartre)
O título deste trabalho pressupõe que o corpo fala. Tentarei demonstrar uma
interpretação do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) como
a voz do corpo, através dos depoimentos de pais/mães ou tutores, sobre como se dá
a organização psicomotora de crianças com este diagnóstico. A faixa etária das
crianças envolvidas com a pesquisa não foi delimitada.
A escolha do tema foi realizada, devido à predileção por disciplinas com
bases biológicas e filosóficas, além de grande interesse pela área de Saúde Mental
e por temáticas que envolvem a antipsiquiatria.
A coleta e a análise de dados, através de entrevistas semi estruturadas, serão
os metodológicos utilizados na parte prática do trabalho.
O objetivo da pesquisa vai além da investigação das características
comportamentais e do desenvolvimento psicomotor dessas crianças. Busca verificar
possíveis mudanças comportamentais após o início do tratamento medicamentoso e
sua eficácia.
Pretende-se verificar a hipótese de que, nas escolas, o TDAH (como será
abreviado deste ponto em diante) está banalizado, conforme a observação dos
especialistas em educação e as crianças sendo medicalizadas desnecessariamente.
Para tanto será investigada uma amostra de escolas públicas e particular.
O leitor encontrará nos textos a seguir, conceitos como saúde, doença,
esquema e imagem corporal, organização psicomotora, psicomotricidade e TDAH,
com seus tipos e comorbidades.
Um capítulo específico apresenta noções de limites versus potencialidades.
Boa parte das discussões sobre a antipsiquiatria e a crítica à supervalorização do
diagnóstico tem por base o pensamento do Dr. Thomas Stephen Szasz, psiquiatra
húngaro, militante radical contra a impregnação medicamentosa e os rótulos
estigmatizantes. A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) foi tomada
como a principal referência dos defensores da idéia de que o TDAH é uma doença,
que deve ser tratada e medicalizada.
O TDAH é uma temática polêmica, discutida por médicos, psicólogos,
educadores, pais e demais interessados.
13
A análise dos dados apresentados poderá proporcionar uma compreensão do
desenvolvimento psicomotor das crianças e buscar um melhor discernimento entre
as concepções de saúde e doença, substanciando o campo da pesquisa acadêmica,
do conhecimento científico, da promoção de saúde e abrindo possibilidades de uma
existência mais saudável.
14
2 REVISÃO DA LITERATURA
"A única coisa que se aprende e realmente faz diferença no comportamento da pessoa que aprende
é a descoberta de si mesma”. (Carl R. Rogers)
Neste capítulo serão relacionados conceitos básicos para uma melhor assimilação
da temática proposta. Serão apresentados conteúdos significativos sobre o TDAH e
seu percurso sócio-histórico desde as primeiras publicações até a atualidade. A
organização psicomotora será teoricamente exposta e a questão medicamentosa
será problematizada através das opiniões de autores tais como Thomaz Szasz,
Hallowel, Feijoo, Ferreira, Thompson e Mousinho, dentre outros e da Associação
Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).
2.1 Saúde: conceitos
Para Scliar (2007), estudioso sobre o conceito de saúde, tal conceito não
representa a mesma coisa para todas as pessoas. Segundo ele, dependerá da
época, do lugar, da classe social, de valores individuais, concepções científicas,
religiosas e filosóficas. O mesmo, aliás, pode ser dito das doenças.
De acordo com Backes e outros (2008), saúde traz a idéia de qualidade de
vida e está condicionada a vários fatores, tais como: paz, abrigo, alimentação,
renda, educação, recursos econômicos, ecossistema estável, recursos sustentáveis,
equidade e justiça social. E surgiu com a Conferência Internacional sobre a
Promoção da Saúde, em Ottawa, no ano de 1986.
Aspectos econômicos, políticos, socioculturais, socioepidemiológicos e
históricos influenciam o processo vital, a saúde humana e os modos de vida, de
trabalho e de produção. Estes aspectos são fundamentais para se compreender os
processos de saúde, adoecimento e morte da população, informa Backes e outros
(2008).
2.1.1 Segundo a OMS
Para a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) o conceito de saúde,
divulgado na Carta de Princípios de 07 de abril de 1948, diz respeito ao “estado do
15
mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
enfermidade” . (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1948).
2.1.2 Segundo o Ministério da Saúde
Buss e Filho (2007) em artigo publicado no portal eletrônico do Ministério da
Saúde, afirmam que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da
população estão relacionadas com sua situação de saúde. Estes autores informam
que para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS),
os Determinantes Sociais de Saúde (DSS) são os fatores sociais, econômicos,
culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a
ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população.
2.2 Doença: conceitos
O significado literal da palavra doença é “estado fisioquímico de desordem
corporal”. (SZASZ,1974, p. 52). A doença ou enfermidade só pode afetar o corpo.
Consequentemente, não pode existir algo como doença mental. Essa expressão é
uma metáfora, segundo o Dr. Szasz.
Em conformidade com o ponto de vista que o autor desenvolveu e esclareceu,
não há e nem pode haver doença mental. Ele não considera a Psiquiatria como um
empreendimento médico, mas moral e político.
Explicando a gênese da doença mental como uma invenção, o Dr. Szasz
complementa que
até a metade do Século XIX, e mais além, doença significava uma
desordem corporal cuja manifestação típica era a alteração da estrutura
física: isto é, uma visível deformidade, enfermidade, ou lesão, como uma
extremidade disforme, uma pele ulcerada, uma fratura ou ferimento. A partir
desse significado original, a doença era identificada através de uma
alteração da estrutura corpórea, e os médicos distinguiam doenças de nãodoenças
de acordo com o que podiam detectar em termos de uma mudança
anormal na estrutura do corpo de uma pessoa. (SZASZ, 1974, p. 07)
Em contrapartida ao critério médico de detecção de doença a partir da
estrutura corpórea, a psiquiatria lança mão do critério de observação da função
corpórea.
16
Doença mental está para doença corporal assim como um mau programa
de televisão está para uma televisão com defeito. A palavra doente pode ser
usada, e frequentemente o é, num sentido metafórico. Dizemos que certas
brincadeiras são doentes, que a economia está doente, e algumas vezes
dizemos até que o mundo inteiro está doente; mas somente quando
chamamos as mentes de doentes é que sistematicamente confundimos e
estrategicamente interpretamos de forma errada a metáfora pelo fato. É
como se um telespectador mandasse consertar uma televisão porque não
tivesse gostado de um programa que viu na tela (...) Afirmo que as
intervenções psiquiátricas lidam com problemas morais, e não médicos.
(SZASZ, 1974, p. 08).
Parecem não ter limites, as pretensões absolutizantes das ciências naturais
que norteiam o pensamento psiquiátrico, de acordo com Rodrigues (2004), doutor
em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O autor
prossegue afirmando que segundo a vertente psiquiátrica, a subjetividade humana é
reduzida a um complexo de sistemas neuronais que quando em desequilíbrio,
provocam o adoecimento.
Para a Psiquiatria é através da correção destes sistemas neuronais que o
retorno à saúde deve ser conquistado, entendendo que cada efeito corresponde a
uma causa e buscar a causa é o primeiro passo para se corrigir o efeito.
“Transforma-se assim o psiquismo numa grande engrenagem- uma máquina de
pensar e sentir- sendo os profissionais de saúde seus legítimos consertadores”.
(RODRIGUES, 2004, p. 34).
Torna-se importante enfatizar neste tópico sobre doença, a diferença entre os
conceitos de causa e motivo. BOSS mencionado por Rodrigues (2004) afirma que a
noção de causa é desprovida de significados, sendo mera conexão temporal e o
motivo é inerente à vontade humana.
A causa é relativa a fenômenos naturais que remetem ao princípio de causa e
efeito. A ação portanto é natural. O motivo surge a partir da ação humana e é
intencional.
De acordo com Heidegger (1987/2001), a causa dá-se por uma sequência
necessária e determina um efeito. O motivo faz surgir o livre arbítrio humano. “Ao
referir-se ao Homem, fala em motivos e não em causas. A causa é o porquê”.
(HEIDEGGER, 1987/2001, p. 180).
Para Heidegger toda doença é uma limitação da possibilidade de viver, em
outros termos, é uma restrição de liberdade. Segundo este pensador, “o homem é
essencialmente necessitado de ajuda, por estar sempre em perigo de se perder, de
17
não conseguir lidar consigo”. ( HEIDEGGER, 1987/2001, p. 180).
Algumas concepções de doença foram demonstradas, mas faz-se necessário
ainda, apresentar o significado do “estar doente”.
A mestre em filosofia e docente em especializações na Universidade Gama
Filho do Rio de Janeiro, Ribeiro (2008) expõe seu ponto de vista a respeito da
concepção de doença, como uma dificuldade vivenciada, um sofrimento existencial
expresso numa determinada área corporal. Esta especialista afirma que “nunca há '
a doença' e sim um 'estar doente', ou seja, um determinado modo de existir”.
(RIBEIRO, 2008, P. 91).
Compartilhando desta opinião de que o “estar doente” consiste numa
dificuldade vivenciada, ou um modo de existir, Szasz (1974, p. 59) acrescenta que a
fenomenologia das chamadas doenças mentais dependem e variam de acordo com
o contexto onde ocorrem, mas afirma que a doença física independe do caráter
sócio-econômico e político da sociedade em que ocorre, ou seja, possui caráter
universal.
Antigamente a doença mental era considerada como doença física, o
sofrimento da pessoa não era contextualizado. A fisiologia humana é semelhante
universalmente, porém, o existir humano é singular.
é impossível submeter o conceito de doença mental a uma análise sem que
antes esbarremos com o conceito de doença comum ou corporal. Que
significa dizer que uma pessoa esta doente?(...) primeiro, que a pessoa
acredita, ou que seu médico acredita, ou que ambos acreditam, que ela
sofra de alguma anormalidade ou mal funcionamento de seu corpo; e
segundo, que ela deseja, ou no mínimo aceita, uma ajuda médica para seu
sofrimento. Assim, o termo doença, refere-se primeiramente a uma condição
biológica anormal. (SZASZ, 1974, p. 06)
O psicólogo americano May (1996, p. 60), contrariamente ao pressuposto da
psicanálise clássica que procura enquadrar o sujeito em estruturas predeterminadas,
acredita que o indivíduo pode progredir de um simples problema de personalidade
para um estado neurótico e da neurose para a psicose, podendo voltar pelo mesmo
caminho ao estado original.
2.2.1 Segundo a OMS
O conceito de doença, de acordo com esta organização está atrelado ao
modelo médico. Uma série de organizações de usuários opõe-se ao uso dos termos
18
“doença mental” e “paciente mental” alegando que eles apoiam a dominação de tal
modelo. A maioria dos documentos clínicos internacionais evita o uso do termo
“doença mental”, preferindo empregar em seu lugar o termo “transtorno mental”.
Transtorno implica a existência de um conjunto de sintomas clinicamente
identificáveis ou comportamento associado na maioria dos casos a sofrimento e a
interferência nas funções pessoais, é o que afirma a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE (2005, p. 55). O desvio ou conflito social por si sós, sem disfunção pessoal,
não devem ser incluídos no transtorno mental. O Código Internacional de Doenças
(CID-10) afirma que o termo “transtorno” é usado para evitar os problemas ainda
maiores inerentes ao uso de termos como “enfermidade” e “doença”.
2.2.2 Segundo o Ministério da Saúde
Em conformidade com artigo publicado no site do MINISTÉRIO DA SAÚDE,
para Scliar (2007) aquilo que é considerado doença varia muito. Houve época em
que masturbação era considerada uma conduta patológica capaz de resultar em
desnutrição e em distúrbios mentais. Houve época ainda, em que o desejo de fuga
dos escravos era considerado enfermidade mental: a drapetomania (do grego
drapetes, escravo). O diagnóstico foi proposto em 1851 por Samuel A. Cartwright,
médico do estado da Louisiana, no escravagista sul dos Estados Unidos. O
tratamento proposto para os escravos “fujões” era o do açoite, conforme Scliar
(2007).
A concepção mágico-religiosa partia do princípio de que a doença resulta da
ação de forças alheias ao organismo que neste se introduzem por causa do pecado
ou de maldição. Scliar (2007) segue afirmando que para os antigos hebreus, a
doença não era necessariamente devida à ação de demônios, ou de maus espíritos,
mas representava um sinal da cólera divina diante dos pecados humanos. A doença
era sinal de desobediência ao mandamento divino.
Com o advento da Modernidade e o desenvolvimento da Anatomia, a
concepção religiosa de doença é superada e René Descartes, inspirado no
desenvolvimento da mecânica, postula o dualismo mente-corpo, em que o corpo
funciona como uma máquina.
Mais adiante, os românticos não apenas aceitam a doença e a morte, mas
19
passam a desejá-las. Com a descoberta do microscópio no Século XVII e a
chamada Revolução Pasteuriana, ou avanço científico, no final do Século XIX, pela
primeira vez, fatores etiológicos eram identificados e as doenças podiam ser
prevenidas e curadas.
2.3 O que é o TDAH
Conforme o professor de psiquiatria Luiz Rodhe, em entrevista ao jornal
Correio da Bahia de 07 de agosto de 2004, a primeira menção que a literatura
médica faz ao TDAH, data de 1852. Sendo descoberto pelo médico alemão Hofman
e a primeira publicação em uma revista científica aconteceu em 1902.
Em controvérsia, Hallowell (1999) afirma que embora seja difícil precisar
quem foi o primeiro a definir a síndrome, em geral os créditos vão para o pediatra
inglês George Frederic Still, a partir de uma série de palestras no Royal College of
Physicians, no ano de 1902. “Entretanto, Alexander Crichton descreveu um quadro
com todas as características do tipo predominantemente desatento do TDAH, mais
de um século antes de Still, em 1798”. (PALMER; FINGER, 2001 apud FUENTES et
al, 2008, p. 241).
A psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva, em entrevista à Campos
(2010), repórter da Revista Psique Saúde&Vida, firma que o TDAH é um transtorno
neurobiológico caracterizado por três sintomas básicos: desatenção, impulsividade e
hiperatividade. A médica diz que muitas crianças apresentam estes três sintomas,
porém a criança diagnosticada com o TDAH tende a ter seus sintomas exacerbados
na escola, pelo fato de ser um ambiente com regras a serem seguidas e com maior
necessidade de atenção por períodos mais longos, especialmente em atividades
monótonas ou menos prazerosas para as crianças.
A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), instituição sem fins
lucrativos, criada em 1999 e presidida pela psicóloga Iane Kestelman, quem conta
20
com uma equipe interdisciplinar que compõe um conselho científico com médicos e
psicólogos em sua maioria, além de associados familiares e/ou portadores, também
define o TDAH como um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que
aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a vida. De
acordo com esta Associação especializada no assunto, o TDAH é também
conhecido como Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA) e reconhecido oficialmente
por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda conforme a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, que deste
ponto em diante será referida apenas como ABDA, o TDAH é o transtorno mais
comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados.
Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que
foi pesquisado. Em mais da metade dos casos, o transtorno acompanha o indivíduo
na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.
2.3.1 Informações Nacionais e Mundiais Acerca do TDAH
Com relação às manifestações específicas à cultura, idade e gênero, a ABDA
informa que o TDAH ocorre em várias culturas, sendo que as variações na
prevalência relatada entre os países ocidentais provavelmente decorrem mais de
diferentes práticas diagnósticas do que de diferenças na apresentação clínica.
O transtorno é muito mais frequente no sexo masculino, com as razões
masculino-feminino sendo de 4:1 a 9:1, dependendo do contexto.
Hallowell (1999) informa que estatísticas americanas apontam, que 5% das
crianças em idade escolar sofrem com o Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA).
Existem inúmeros estudos em todo o mundo demonstrando que a prevalência
do TDAH é semelhante em diferentes regiões. Isso indica que o transtorno não é
secundário a fatores culturais.
A partir de dados da Anvisa e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Mattos, citado por Cuminale (2010), diz que menos de trinta mil pessoas
21
com TDAH são tratadas por ano no País e complementa que o número é baixo,
frente aos três milhões de brasileiros potencialmente portadores.
2.3.2 Histórico das Denominações do TDAH
Este tópico apresenta as diversas denominações do Transtorno do Déficit de
Atenção com Hiperatividade, desde a provável primeira publicação a respeito do
tema, até a última versão do DSM-IV e conforme as pesquisas da ABDA.
Informações do Capítulo X de “Psicologia Clínica" de Ferreira, Thompson e
Mousinho (2002) foram compiladas no quadro abaixo para melhor visualização:
HISTÓRIO DA NOMENCLATURA DO TRANSTORNO
POR ANO DENOMINAÇÃO
George Still 1902 Déficit de Controle Moral.
Kahn e Cohen 1934 Dano ou Lesão Cerebral Mínima.
Wender 1971 Disfunção Cerebral Mínima.
APA* 1980 Déficit de Atenção.
APA* 1987 Distúrbio do Déficit de Atenção e Hiperatividade.
* APA - American Psychiatry Association. (Associação Americana de Psiquiatria).
Em outra fonte, Hallowell (1999) informa que nas décadas de 1930 e 1940, os
comportamentos inadequados eram considerados como lesões cerebrais, na década
de 1950, como propulsões orgânicas e disfunção cerebral mínima. Em 1960, o autor
lembra que Stella Chess nomeou a suposta doença como síndrome da criança
hiperativa. No ano de 1970, Virgínia Douglas, pesquisadora canadense, encontrou
quatro características principais: déficit de atenção e esforço, hiperatividade,
problema de regulação do nível de vigília e necessidade de esforço imediato. Em
1980, a síndrome ficou conhecida como Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA).
Hallowell refere-se ao TDAH sempre como DDA.
Na Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição (CID-10) o transtorno
está enquadrado no grupo F90, que é o grupo dos transtornos hipercinéticos, sob a
22
classificação F90.0 (Distúrbios da atividade e da atenção/Síndrome de déficit da
atenção com hiperatividade/Transtorno de déficit da atenção com
hiperatividade/Transtorno de hiperatividade e déficit da atenção).
No Manual Estatístico Diagnóstico de Transtornos Mentais, 4ª edição (DSMIV)
o TDAH está classificado como Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Sucupira (2009) diz que a falta de critérios objetivos para a definição dessa
disfunção permitiu que Clements e Peters, em 1962, identificassem, apenas na
literatura americana, mais de quarenta denominações para descrever a criança
hiperativa e noventa e nove características que poderiam ser atribuídas à disfunção
cerebral mínima.
2.3.3 Tipos
Quando eu fui à faculdade de medicina, sessenta anos atrás, tínhamos
apenas um pouco de doenças mentais. Acho que não havia mais de seis ou
sete. Agora existem mais de trezentas. E outras novas são “descobertas”
todos os dias. (SZASZ, 2009).
Quanto às modalidades de manifestação do TDAH, segundo a ABDA, embora a
maioria dos indivíduos apresente sintomas tanto de desatenção quanto de
hiperatividade-impulsividade, existem alguns indivíduos nos quais há predominância
de um ou outro padrão. O subtipo apropriado para um diagnóstico atual deve ser
indicado com base no padrão predominante de sintomas nos últimos seis meses.
2.3.3.1 Com Hiperatividade
Para se falar em hiperatividade ou em impulsividade, é bom que se esclareça
que estes conceitos têm a ver com vontade, ou ato volitivo, que segundo
Dalgalarrondo (2008), é uma dimensão complexa da vida mental, relacionada
intimamente com as esferas instintivas, afetivas e intelectivas (avaliar, julgar,
analisar, decidir), assim como o conjunto de valores, princípios, hábitos e normas
23
socioculturais do indivíduo. Muitas vezes o ato volitivo, ou de vontade, é manifesto
através das expressões: “eu quero” ou “eu não quero”.
De acordo com este autor, o Existencialismo aponta o conflito entre livre
arbítrio e determinismo, como uma das questões mais fundamentais para o ser
humano, pois é o conflito entre a liberdade e a responsabilidade que nos arrastam
de um lado para outro.
Para Dalgalarrondo (2008) a diferença básica em termos de distúrbios da
vontade se dá entre o ato impulsivo e o compulsivo. Os atos impulsivos abolem as
fases de intenção, deliberação e decisão, partindo logo para a execução.
Predominam os atos psicomotores automáticos, sem reflexão. Já os atos
compulsivos são reconhecidos pelo indivíduo como indesejáveis (egodistônicos),
inadequados e caracterizam-se pela tentativa de adiá-los ou impedi-los.
Alguns conceitos relevantes que se relacionam com a hiperatividade são
descritos por Rodrigues (2008). O termo compulsão, como exemplo, é utilizado
genericamente, como uma forma de relação com determinados objetos capazes de
nos proporcionar uma experiência de prazer, em que o elemento mais evidente é a
ausência de controle. Já o termo impulso, conforme explica este autor, é originado
do latim impulsos e significa “posto em movimento”, “empurrado”, “excitado”. Referese
a algo poderoso que nos impele a agir.
A diferença básica é que a compulsão ocorre de maneira ritualizada e o
impulso se manifesta subitamente e com caráter explosivo.
Se formos nos manter afeitos às nomeações da psicopatologia clássica, o
que genericamente chamamos de compulsividades são muito mais
dificuldades no controle dos impulsos do que propriamente compulsões.
(RODRIGUES, 2008, 183).
2.3.3.2 Sem Hiperatividade
Este tipo também é conhecido como predominantemente desatento, de
acordo com Ferreira, Thompson e Mousinho (2002) e é assim classificado quando
seis ou mais sintomas persistem, durante seis meses no mínimo, em grau
desadaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento da criança.
Em alguns casos, o Transtorno do Déficit de Atenção sem hiperatividade afeta
24
a aprendizagem. A classificação das dificuldades de aprendizagem é possível
segundo as variáveis: orgânica, cognitiva, sócio-afetiva e pedagógica. É o que
afirmam as docentes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Coutinho e
Moreira (1992), mestras e especialistas em educação.
2.3.3.3 Misto
De acordo com Ferreira, Thompson e Mousinho (2002), este tipo é uma
mescla dos sintomas do tipo predominantemente hiperativo com o
predominantemente desatento.
Segundo a ABDA, para este subtipo ser classificado pelo CID-10, deve haver
seis ou mais sintomas de desatenção e seis ou mais sintomas de hiperatividadeimpulsividade
persistindo por pelo menos seis meses. A maioria das crianças e
adolescentes com o transtorno tem o tipo combinado. Não se sabe se o mesmo vale
para adultos com o transtorno.
2.3.4 Características
No CID-10, conforme o site da ABDA, o TDAH está enquadrado no grupo dos
transtornos hipercinéticos e este é o grupo de transtornos caracterizados por início
precoce, falta de perseverança nas atividades que exigem um envolvimento
cognitivo maior, tendência a passar de uma atividade à outra sem acabar nenhuma,
associadas a uma atividade global desorganizada, descoordenada e excessiva.
Os transtornos podem acompanhar outras anomalias. As crianças
hipercinéticas são frequentemente imprudentes e impulsivas, sujeitas a acidentes e
incorrem em problemas disciplinares mais por infrações não premeditadas de regras
que por desafio deliberado. Suas relações com os adultos são marcadas por uma
ausência de inibição social e falta de cautela. Podem ser impopulares com as outras
crianças e se tornarem isoladas socialmente.
Estes transtornos frequentemente estão associados a um déficit cognitivo
e/ou a um retardo específico do desenvolvimento da motricidade e da linguagem. As
25
complicações secundárias incluem um comportamento antissocial e uma perda de
autoestima. “Pessoas com TDAH apresentam um prejuízo sutil, diário e persistente,
com grande impacto na qualidade de vida da própria pessoa e de toda a sua
família.” (FUENTES et al, 2008, p. 241).
2.3.5 Possíveis Etiologias
São inúmeras as possibilidades descritas pelos diversos autores consultados,
além da Associação Brasileira do Déficit de Atenção e da bula do medicamento mais
prescrito pelos médicos (a Ritalina), conforme demonstrado a seguir.
De acordo com Lopes (2010), os fatores que podem contribuir para o
desencadeamento do TDAH são: hereditariedade, mau funcionamento do córtex préfrontal
e histórico familiar, tal como violência doméstica, brigas e abuso de drogas.
O sofrimento fetal, a nicotina e o álcool, quando ingeridos no período de
gestação, podem causar alterações cerebrais no bebê, principalmente na região
frontal orbital, relacionada aos problemas de hiperatividade e desatenção,
complementa o psicólogo e autor do livro “O Poder dos Pais no Desenvolvimento
Emocional e Cognitivo dos Filhos”, Messa (2010).
No aspecto neuroquímico, a ABDA diz que o TDAH é concebido como um
transtorno no qual os neurotransmissores catecolaminérgicos funcionam em baixa
atividade. A ênfase está na desregulação central dos sistemas dopaminérgicos e
noradrenérgicos que controlam a atenção, organização, planejamento, motivação,
cognição, atividade motora, funções executivas e também o sistema emocional de
recompensa.
Das possíveis causas do TDAH, conforme resultados de pesquisas da ABDA,
as principais são: hereditariedade, substâncias consumidas na gravidez (tais como
nicotina e álcool), sofrimento fetal, exposição ao chumbo e problemas familiares.
Outros fatores foram averiguados e posteriormente abandonados como causa
de TDAH, tais como corante amarelo, aspartame, luz artificial, deficiência hormonal
(principalmente da tireóide) e deficiências vitamínicas na dieta. Todas estas
26
possíveis causas foram investigadas cientificamente e foram desacreditadas,
segundo informações da ABDA.
A bula da Ritalina considera o TDAH como uma síndrome e consta que a
etiologia específica dessa síndrome é desconhecida, não havendo teste diagnóstico
específico.
2.3.6 Sintomas
Hiperatividade, impulsividade e desatenção não podem ser punidos. Uma
criança não é desatenta porque escolheu ser desatenta. Quando tem TDAH,
ela simplesmente não consegue prestar atenção e nós não podemos puni-la
por isso, porque isso é cruel, isso é perverso e isso aumenta e agrava a
severidade do TDAH. (KESTELMAN, 2009).
Desatenção, hiperatividade e impulsividade. Estes sintomas primários não
devem ser punidos, pelo fato da não liberdade de escolha da criança, pois no
parecer da Drª Iane Kestelman (2009), presidenta da ABDA e mãe de duas crianças
portadoras do transtorno, a etiologia destes sintomas é neurobiológica e não um
construto social. Segundo esta psicóloga, independe da subjetividade do indivíduo,
pois há coisas que ele não quer e há coisas que não consegue.
O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas:
desatenção e hiperatividade-impulsividade. Na infância, geralmente, ele associa-se
a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e
professores. As crianças são tidas como "avoadas", "vivendo no mundo da lua",
"estabanadas" e com "bicho carpinteiro". Isto é, não param quietas por muito tempo.
Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de
comportamento, como dificuldades com regras e limites.
As crianças que apresentam sintomas do TDAH, em especial os meninos, são
agitados ou inquietos. Na idade pré-escolar, estas crianças se movem sem parar
pelo ambiente, mexendo em vários objetos como se estivessem “ligadas por um
motor”. Mexem pés e mãos, não param quietas na cadeira, falam muito e
constantemente pedem para sair de sala ou da mesa de jantar.
Essas crianças têm dificuldades para manter atenção em atividades muito
27
longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. São facilmente distraídas
por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com os próprios
pensamentos.
Nas provas, são visíveis os erros por distração. Erram sinais, vírgulas,
acentos etc. e como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da
memória, elas em geral são tidas como "esquecidas": esquecem recados ou material
escolar, aquilo que estudaram na véspera da prova etc. O esquecimento é uma das
principais queixas dos pais.
O TDAH não se associa necessariamente a dificuldades na vida escolar,
embora esta seja uma queixa frequente de pais e professores. É mais comum que
os problemas na escola sejam de comportamento que de rendimento, pois
geralmente têm boas notas.
Outro aspecto importante é que as meninas têm menos sintomas de
hiperatividade-impulsividade que os meninos, embora sejam igualmente desatentas.
Isso fez com que se acreditasse que o TDAH só ocorresse no sexo masculino,
segundo informações da ABDA.
Os sintomas secundários estão relacionados à baixa auto estima, fácil
desistência frente a dificuldades, deteorização do relacionamento com os pares,
frustração, intolerância a situações monótonas e repetitivas, competência
comunicativa comprometida, fracasso escolar, rejeição social, aumento da incidência
de acidentes, conflito familiar, dentre outros.
A existência da forma adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida apenas
em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana e desde então inúmeros estudos
têm demonstrado a presença do TDAH em adultos.
2.3.7 Comorbidades
Comorbidade é um termo usado para descrever a ocorrência simultânea de
dois ou mais problemas de saúde em um mesmo indivíduo. Os estudos
epidemiológicos realizados em crianças portadoras de TDAH documentam uma
incidência elevada de distúrbios psiquiátricos comórbidos, afirma o professor de
psiquiatria da infância e da adolescência, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Luiz Augusto Paim Rohde, em entrevista ao Jornal Correio da Bahia, de 07 de
28
agosto de 2004.
Outros transtornos também são observados com alguma frequência, como o
transtorno alimentar que pode surgir para dar conta da compulsão que acomete a
maioria dos portadores de TDAH. A pessoa passa a comer, tendo fome ou não,
tornando-se obeso, sobrecarregando seu sistema digestivo e gastrointestinal, o que
por conseguinte pode comprometer sua autoestima e ainda levar a desenvolver
transtornos como a Bulimia.
Outro transtorno bastante comum em pacientes com o TDAH é o de fobia,
geralmente incitado pelo medo de cometer gafes, ser criticado, ser ridicularizado por
dificuldade com a linguagem, ter esquecimentos, enfim, por situações que o
exponha de maneira negativa. Além das fobias sociais, casos de fobias por
situações e/ou objetos também são frequentemente relatadas como: medo de avião,
elevador, tempestade, sangue ou até mesmo de animais domésticos.
A ABDA apresenta as comorbidades mais frequentes:
 TDAH com Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD);
 TDAH com Transtorno de Conduta (TC);
 TDAH com Transtorno de Ansiedade (TA);
 TDAH com Transtorno de Humor Bipolar (THB);
 TDAH com Transtorno Depressivo (TDM).
Sobre as somatizações, o americano escritor de best sellers sobre a
existência humana, Powell (1969) sustenta que a causa mais comum da fadiga e da
doença é a repressão de emoções, que poderão encontrar saída, extravasando-se
em dores de cabeça, doenças cutâneas, alergias, asma, gripes comuns, dores nas
costas ou membros; ou poderão extravasar em tensão muscular, bater de portas,
punhos cerrados, pressão alta, ranger de dentes, lágrimas, mau-humor e atos de
violência “Não conseguimos enterrar nossas emoções; elas permanecem vivas em
nosso subconsciente e em nossos intestinos para nos ferir e nos causar problemas”.
(POWELL, 1969, p. 75).
29
2.3.8 Diagnóstico
Como podemos diferenciar entre uma criança mimada e outra com DDA?
Como podemos distinguir uma criança com problemas emocionais de uma
criança com DDA? É preciso olhar com cuidado para a história individual da
criança; é principalmente nessa história que se baseia o diagnóstico”.
(HALLOWELL, 1999, p. 62).
De acordo com Hallowell (1999) há testes psicológicos que podem ajudar na
comprovação do diagnóstico de DDA, como o Escala Wechsler de Inteligência para
Crianças (WISC) e outros que avaliam a atenção e a impulsividade, mas não há
nenhum específico para o DDA. Relatórios de professores e pais, indícios
provenientes de olhos e ouvidos humanos ao longo do tempo devem ter prioridade
em relação aos dados obtidos por meio de testes psicológicos, pois “a ferramenta
diagnóstica mais confiável é a história de cada caso, conforme extraída da criança,
de seus pais e, o que é muito importante, dos relatórios dos professores”.
(HALLOWELL, 1999, p. 63).
Conforme este autor os motivos mais comuns que levam a falhas no
diagnóstico são o desconhecimento do problema por parte do profissional e a
banalização ou a supervalorização do mesmo.
Hallowell (1999) posiciona que o diagnóstico em adultos chega por vias
tortuosas, pois a criança, pelo menos, tem a escola que funciona como um centro de
triagem, quanto à atenção e à aprendizagem. As empresas não têm a mesma
tolerância com os seus funcionários, os cônjuges um com o outro e a sociedade de
modo geral.
Segundo a bula da Ritalina, um dos medicamentos mais prescritos para os
casos de TDAH, o diagnóstico correto requer uma investigação médica,
neuropsicológica, educacional e social. As características comumente relatadas
incluem: história de déficit de atenção, distractibilidade, labilidade emocional,
impulsividade, hiperatividade moderada a grave, sinais neurológicos menores e
eletro encefalograma (EEG) anormal. O aprendizado pode ou não estar prejudicado.
O diagnóstico deve ser baseado na história e avaliação completas da criança e não
apenas na presença de uma ou mais dessas características.
Como pondera Angerami-Camon, no artigo produzido por Tenório (2008), a
pessoa doente é antes de tudo uma pessoa que sofre, que precisa em primeiro lugar
ser compreendida a partir de seus sentimentos, sensações, emoções, enfim, de tudo
30
que por ela é vivenciado. Deve-se obtemperar sobre a pessoa no processo
diagnóstico como sendo um fenômeno único e, como tal, respeitada em sua
totalidade; não deve, portanto, ser avaliada segundo normas e padrões de
comportamento preestabelecidos, numa total revelia à sua própria existência. Seu
nível de crescimento ou de maturidade deve ser dimensionado por meio dos projetos
de vida por ela própria idealizados e de acordo com seu próprio mundo e contexto
existencial.
2.3.9 Intervenção e Tratamento
Costuma-se definir a psiquiatria como sendo a especialidade médica que se
preocupa com o estudo, diagnóstico e tratamento das doenças mentais.
Trata-se de uma definição inútil e errônea. A doença mental é um mito. Os
psiquiatras não estão preocupados com as doenças mentais e seu
tratamento. Na prática real, lidam com problemas éticos, sociais e pessoais.
(SZASZ, 1974, p. 245).
Em 1990, Goldstein e Goldstein deram sua contribuição, desenvolvendo os
primeiros psicotrópicos (psicoestimulantes) para o tratamento dos sintomas do
TDAH em crianças. Zometikin foi quem observou uma diminuição no consumo de
energia, em cerca de 8%, em cérebros de indivíduos com TDAH, de acordo com
Ferreira, Thompson e Mousinho (2002).
Hallowell (1999) bem coloca que a sensação íntima de sentir-se
compreendido pode curar mais feridas do que qualquer medicação. Palavras
carinhosas ou pequenos conselhos funcionam como um bálsamo.
A verdade é que, quando usados no tratamento do DDA de maneira
apropriada, a Ritalina e outros medicamentos são muitos seguros e podem
ter um efeito tão drástico quanto os óculos no grau certo para o míope.
(HALLOWELL, 1999, p. 283).
Hallowell (1999) diz que o terapeuta deve atuar de modo ativo e orientador,
no sentido de auxiliar o paciente a reorganizar-se. Contrariamente à prática dos
psicoterapeutas psicanalistas, os terapeutas de DDA devem oferecer sugestões
concretas quanto a formas de organização, concentração, planejamento de projetos,
administração do tempo, priorização de tarefas. O terapeuta deve agir com o
paciente e não para o paciente, de modo que este se torne autônomo.
Segundo a ABDA, o Tratamento do TDAH deve ser multimodal, ou seja, uma
combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas
31
específicas que são ensinadas ao portador. O tratamento psicológico e o
neurofeedback são também importantes.
O neurofeedback ou neuro-biofeedback é um conjunto de procedimentos
baseados no processo de reforçamento condicionado, no qual se aprende a
controlar a frequência das ondas cerebrais. Esta alteração é muito importante no
tratamento dos portadores do TDAH, pois atua sobre a base biológica do transtorno,
proporcionando um efeito duradouro e não apenas momentâneo como os
produzidos pelos psicoestimulantes. No neurofeedback o paciente é conectado a
sensores que medem suas frequências de ondas cerebrais. Estes sinais são
decodificados por um computador que apresenta ao cliente os sinais
correspondentes às frequências de ondas predominantes.
O tratamento por neurofeedback pode durar de trinta a sessenta sessões. O
paciente passa por um processo de aprendizagem ou reeducação do cérebro, que
estava acostumado a trabalhar de maneira diferenciada. Dessa maneira, ele poderá
pleitear uma redução da medicação ou até mesmo a extinção do tratamento
medicamentoso, uma vez que consiga, após o tratamento com neurofeedback,
aumentar a frequência das ondas cerebrais e consequentemente aumentar a
capacidade de focar e sustentar a atenção de maneira voluntária.
O neurofeedback pode ser uma boa opção para aqueles que têm alguma
restrição com relação aos medicamentos.
2.3.9.1 Amplo (Interdisciplinar)
A medicina ocidental baseia-se em duas premissas tácitas: primeira, que a
tarefa do médico é diagnosticar e tratar das desordens do corpo humano, e
segunda, que ele só pode fazer esses serviços com o consentimento de seu
paciente”. (SZASZ, 1974, p. 07).
A abordagem terapêutica é feita de forma multidisciplinar, envolve tanto o
diagnóstico quanto o tratamento. Nesta abordagem terapêutica profissionais
médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, psiquiatras, neurologistas,
neuropediatras, pediatras e outros são envolvidos no processo, com técnicas
32
específicas como a terapia cognitivo comportamental (TCC). Há cuidados médicos e
psicológicos, mas as patologias neuropsicológicas com base biológica não
respondem bem a outros tipos de terapias e necessitam do suporte medicamentoso,
conforme a ABDA.
Segundo Torrecilha (2010) foi publicado no Journal of Attention Deficit and
Hyperactivity Disorders, no início de março de 2010, um estudo que revela a
melhora da atenção em crianças com TDAH, após atividade esportiva. O autor de tal
estudo é o Dr. José Artur Medina, pediatra especialista em Medicina do Esporte,
quem trata de questões importantes para a saúde de crianças em desenvolvimento.
Para o autor do estudo “o importante é incentivar a atividade física para todas as
crianças, não apenas para aquelas com sintomas do transtorno, pois o sedentarismo
é um grande inimigo da saúde” (MEDINA apud TORRECILHA, 2010).
Os resultados verificados, que não indicaram mudanças significativas
relacionadas ao uso ou não do Metilfenidato, trazem a perspectiva de que os
sintomas podem ser minimizados com a prática monitorada de atividades físicas.
2.3.9.2 Metilfenidato: mocinho ou vilão?
O Metilfenidato é um fraco estimulante do sistema nervoso central, com
efeitos mais evidentes sobre as atividades mentais que nas ações motoras.
Seu mecanismo de ação no homem ainda não foi completamente elucidado,
mas acredita-se que seu efeito estimulante é devido a uma estimulação
cortical e possivelmente a uma estimulação do sistema de excitação
reticular. O mecanismo pelo qual ele exerce seus efeitos psíquicos e
comportamentais em crianças não está claramente estabelecido, nem há
evidência conclusiva que demonstre como esses efeitos se relacionam com
a condição do sistema nervoso central. (RITALINA: cloridrato de
Metilfenidato: comprimidos sulcados. Basiléia, Suíça: Novartis Biociências
S/A, 2010. Bula de Remédio).
A Ritalina, nome comercial do Cloridrato de Metilfenidato, foi lançada em 1956
pelo Laboratório Novartis. Seu efeito paradoxal, em doses muito precisas, acaba por
acalmar seus usuários ao torná-los mais concentrados – daí seu uso em crianças
hiperativas.
O Metilfenidato funciona como um potente inibidor da recaptação da
dopamina e da noradrenalina. Bloqueia a captura das catecolaminas pelas
terminações das células nervosas pré-ganglionares; impede que sejam removidas
33
do espaço sináptico. Dessa maneira a dopamina e a noradrenalina extracelulares
permanecem ativas por mais tempo, aumentando significativamente a densidade
destes neurotransmissores nas sinapses.
Este medicamento possui potentes efeitos agonistas sobre os receptores alfa
e beta colinérgicos, eleva o nível de alerta do sistema nervoso central e incrementa
os mecanismos excitatórios do cérebro, portanto culmina numa melhor
concentração, coordenação motora e controle dos impulsos.
A Ritalina, de acordo com as informações de sua bula é indicada como parte
de um programa de tratamento amplo que tipicamente inclui medidas psicológicas,
educacionais e sociais, direcionadas a crianças estáveis com uma síndrome
comportamental caracterizada por distractibilidade moderada a grave, déficit de
atenção, hiperatividade, labilidade emocional e impulsividade.
Ainda em conformidade com a bula da Ritalina, o tratamento medicamentoso
não é indicado para todas as crianças com a síndrome. Os estimulantes não são
indicados a crianças que apresentem sintomas secundários a fatores ambientais, em
particular, crianças submetidas a maus tratos e/ou distúrbios psiquiátricos primários,
incluindo-se psicoses. É contra indicado ainda para pacientes com ansiedade,
tensão, agitação, hipertireoidismo, arritmia cardíaca, angina do peito grave e
glaucoma. Sobre o uso de Ritalina, a bula adverte que os dados de segurança e
eficácia a longo prazo não são completamente conhecidos.
Os efeitos colaterais mais comuns, para quem utiliza o Metilfenidato, são
dores de cabeça, diminuição do apetite, irritabilidade e alteração do sono. Pode
ocorrer em 15% ou 20% dos pacientes que recebem a prescrição médica, explica
Luís Rohde, psiquiatra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).
Para Durlan (2006), o efeito do uso crônico associado ao uso de algum outro
estimulante pode causar sintomas de psicose e assemelhar-se à esquizofrenia
paranóica ou à paranóia, como tem sido mal diagnosticada por clínicos experientes.
Sucupira (2009) dá a saber que ultimamente a revista Pediatrics, vem
publicando um debate com vários artigos nos quais se discute que o uso prolongado
do Metilfenidato pode aumentar o risco de morte súbita e o aparecimento de
problemas cardíacos e de crescimento. Entre 1990 e 2000, o programa de Vigilância
Médica do Food and Drug Administration (FDA) reportou cento e oitenta e seis
34
mortes por consumo prolongado de Ritalina.
Dados provenientes da Food and Drug Administration (FDA) para o período
entre 1999 e 2004 mostraram que dezenove crianças sob medicação para TDAH
morreram subitamente e que vinte e seis crianças foram vítimas de eventos
cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC), parada cardíaca e
palpitações.
Segundo informação de Hopkins (2010), as crianças portadoras do transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) devem passar por eletrocardiograma e
avaliação cardíaca antes de começarem a tomar a medicação, afirmou a American
Heart Association, em um pronunciamento científico, publicado no dia 21 de abril de
2009.
O psicólogo holandês, Joseph Sergeant, em entrevista ao jornal FOLHA DE
SÃO DE PAULO, de 15 de setembro de 2010, diz que a medicação não é a única
forma possível de tratamento, mas em casos mais severos, é a mais recomendada.
Na mesma fonte de referência, Maria Aparecida Moysés, professora de pediatria da
Universidade de Campinas (UniCamp), afirma que aqueles que têm
comportamentos diferentes passam a ser contidos, nem que seja quimicamente. A
criança fica tranquila, quieta, presta atenção, mas isso é sinal de toxicidade da
medicação e não um efeito terapêutico.
Enquanto a polêmica segue no universo infantil, Buchalla (2004) diz que a
Ritalina, com o objetivo de melhorar a concentração e diminuir o cansaço, vai
conquistando de maneira silenciosa adeptos nas universidades e no mercado de
trabalho. Um levantamento feito na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos,
mostrou que um em cada cinco estudantes da instituição havia experimentado a
Ritalina com esse único propósito, afirma a pesquisadora. A Ritalina também é
consumida por executivos que procuram o medicamento para suportarem mais de
dez horas de jornada de trabalho.
A autora ressalta que pais impacientes utilizam o diagnóstico de
hiperatividade como desculpa para entupir seus filhos de remédio e mantê-los
sossegados até nas férias. Tanto é assim que o medicamento foi batizado de "droga
da obediência".
Até 1990, o consumo de Metilfenidato era reduzido, de acordo com Sucupira
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(2009). Nos anos subsequentes houve um aumento na produção deste fármaco, que
passou de menos de três toneladas em 1990 a mais de 8,5 toneladas em 1994. A
autora informa que segundo o periódico americano de medicina, New Scientist, este
boom coincidiu com o fato de que nas escolas, estava começando a se incluir o
diagnóstico de TDAH e a difundir o Metilfenidato no tratamento desse transtorno.
Desde então, segundo a revista inglesa, a venda desta droga é um dos fenômenos
farmacêuticos mais extraordinários de nosso tempo.
Conforme Cuminale (2010), as vendas de Metilfenidato saltaram quase 80%
entre 2004 e 2008, de acordo com informações da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANViSa). O aumento provocou suspeitas de uso indiscriminado da droga:
levantou-se a hipótese de que crianças receberiam erroneamente o diagnóstico
positivo por conta do comportamento agitado. Além disso, adolescentes estariam
obtendo o remédio clandestinamente para turbinar suas funções cognitivas.
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de
Orientação e Assistência a Dependentes (PROAD), da Universidade Federal de São
Paulo, diz à revista Super Interessante, que do ponto de vista científico, não há
diferença entre um dependente de cocaína e um viciado em remédios que contêm
anfetamina. Para ele, droga é droga, não importa se ela foi comprada num morro ou
numa farmácia dentro de um shopping.
Durland (2006) sustenta que a Ritalina é uma das substâncias conhecidas
pelo homem mais perigosas e viciantes. É um estimulante extremamente poderoso,
uma substância química do tipo dos speeds, muito requerida pelos
toxicodependentes; química e neurologicamente.
2.3.9.3 Tratamento segundo a Psicomotricidade
A psicomotricidade é a ciência que estuda o corpo em movimento na relação com
os outros e com o mundo. Ela considera o enlaçamento do corpo físico-motor e
psíquico-afetivo. Surgiu a partir da reeducação psicomotora (RPM). O termo
psicomotricidade vem do discurso médico, mais precisamente neurológico, desde o
final do século XIX, de acordo com Levin (1995).
O objetivo da psicomotricidade é tornar o indivíduo autônomo, condicionando-o a
36
ter em si mesmo, elementos que o possibilitem agir autonomamente longe do
ambiente terapêutico. É o que afirmam Ferreira, Thompson e Mousinho (2002).
As primeiras pesquisas que deram origem ao campo psicomotor correspondem a
um enfoque neurológico. O esquema estático anátomo-clínico que determinava para
cada sintoma sua correspondente lesão focal, já não explicava alguns fenômenos
patológicos e a necessidade de encontrar a área que explicasse certos fenômenos
clínicos, nomeia pela primeira vez a palavra psicomotricidade, no ano de 1870.
Levin (1995) afirma que Duprè, em 1909, a partir de seus estudos clínicos, define
a síndrome da debilidade motora, composta por paratonias, sincinesias e
inabilidades, sem que estas sejam atribuídas a um dano ou lesão extrapiramidal e
afirmando a independência da debilidade motora a um correlato neurológico.
Enquanto Duprè relaciona a motricidade com a inteligência, Henri Wallon relaciona a
motricidade com o caráter. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento à
emoção, ao afeto, ao meio ambiente e aos hábitos das crianças, concluindo que o
conhecimento e o desenvolvimento geral da personalidade não podem ser isoladas
das emoções.
Estas primeiras relações de similitudes e diferenças entre a debilidade
motora e a debilidade mental, somada à contribuição de Wallon relativa à
ação recíproca entre movimento, emoção, indivíduo e meio ambiente, fazem
o delineamento de um primeiro momento do campo psicomotor: é o
momento do “paralelismo”. (LEVIN, 1995, p.25).
O paralelismo é a estreita relação entre movimento e processos cerebrais. A área
psicomotora está compreendida entre a imagem e o movimento.
A prática psicomotora inicia-se com Edouard Guilmain em 1935, quem dá
continuidade às perspectivas teóricas de Duprè e Wallon. Guilmain determina um
novo método de trabalho: a reeducação psicomotora, que estabelece por meio de
diferentes técnicas, um modelo de exercitações para reeducar a atividade tônica, a
atividade de relação e o controle motor. A psicomotricidade surge com respostas
técnicas e uniformes pela demanda propiciada basicamente pela neuropsiquiatria do
início do século XX.
O homem é uma unidade em que a parte somática está inter-relacionada
com a psíquica e que atualmente várias tentativas de integração vêm sendo
feitas, provocando o sucesso das técnicas de expressão corporal e
relaxamento como meio de intervir e resolver conflitos psicoafetivos.
(CABRAL, 1977).
Segundo a autora, o conceito psicomotor é mais profundo do que uma
37
simples associação corpo-psiquismo. A concepção de homem apresentada é como
um indivíduo em que se apóia em um substrato orgânico e que a sensóriomotricidade
é o elemento de ligação e de expressão tanto dos aspectos corporais
quanto dos psíquicos.
Quanto à vivência das pulsões cegas que se exteriorizam, a autora relata que
o homem vai partir para uma organização interna dos afetos que o levará a
conhecer-se e reconhecer-se como pessoa. Baseando-se em uma indiferenciação
mundo interno e externo, o indivíduo vai organizar-se com um esquema corporal e
uma imagem de corpo através de sua ação e das repercussões psicoafetivas desta
ação, também integrando progressivamente um ego. Entende-se assim esta ação
característica do sujeito em formação como ação sensório-motora sobre o mundo
das coisas e o mundo das pessoas.
Na medida em que o esquema corporal se integra, também se organizam o
espaço e o tempo, intimamente ligados à ação e às características de controle e
coordenação global e fina, necessárias para o estabelecimento das praxias e da
percepção que vai se integrar em um nível mais elevado nas gnosias.
Ferreira, Thompson e Mousinho (2002) afirmam que a psicomotricidade
considera que a dificuldade em controlar emoções, em dirigir a atividade psíquica
para um determinado fim, o agir impulsivo, as alterações no sono, a agitação
constante, o comportamento agressivo e a baixa tolerância à frustração são
manifestações que afetam o rendimento nas atividades sociais e escolares.
Em conformidade com esta ciência, a característica essencial do TDAH é um
padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais frequente e severo do
que o tipicamente observado em indivíduos em nível equivalente de
desenvolvimento. Outra característica fundamental é a impossibilidade do indivíduo
adequar a resposta ao estímulo, acrescido de impulsividade. “Uma espécie de curto
circuito do ato voluntário, em que predominam as ações psicomotoras automáticas,
sem reflexão, ponderação ou decisão prévias, de tipo instantâneo e explosivo”.
(FERREIRA; THOMPSON; MOUSINHO, 2002, p. 95).
Comumente a motricidade global das crianças com TDAH é pouco ágil, os
impulsos são desproporcionais, os movimentos são duros e tensos. Falta-lhes
ligeireza e parte das crianças apresentam sincinesias.
38
Segundo a Psicomotricidade enquanto ciência, os efeitos do comportamento
conturbado de quem convive com o transtorno, propicia angústia, sofrimento,
dificuldade no processo de constituição de cada sujeito e rotulações.
Desde seu primeiro dia de vida, a criança já pertence à família, à sociedade
e cada um se apropria dela à sua maneira, e avalia-a como quer, sendo
assim, o homem não deve ser estudado em sua vida individual, mas em sua
vida política e social. (CASSIERER, 1997 apud FERREIRA; THOMPSON;
MOUSINHO, 2002, p. 96).
Os autores Ferreira, Thompson e Mousinho (2002) fundamentam que a
criança não nasce com um conceito próprio e predeterminado, mas incorpora as
atitudes das pessoas que são importantes para ela. Ao identificar-se, ela imita a
pessoa-modelo. Desenvolve conceitos a partir dos seus sentimentos e assim forma
seu autoconceito e sua autoestima. Os ambientes verbal e não verbal incluem as
palavras, os silêncios, as emoções, os sentimentos, os desejos, as reações, a
expressividade nas atitudes e nos gestos.
Os autores supra citados concluem que o sucesso da criança depende da
relação saudável com os pais, que devem instaurar regras de convivência que
brequem o comportamento impróprio, dentro e fora de casa. Importa que as regras
estabelecidas não devem ser imutáveis e podem ser manejadas, conforme as
necessidades da família e das situações vivenciadas. “Quanto menor a criança,
mais precisará estar amparada em regras claras e ancoradas em algo concreto”.
(FERREIRA; THOMPSON; MOUSINHO, 2002, p. 97).
O núcleo do tratamento nos moldes da Psicomotricidade é complementário à
atuação da família e da escola, necessitando de informações e conhecimento de
ambas, para tentar esclarecer qual a atitude e em que contexto trabalhar.
A psicomotricidade considerando os aspectos psicomotores do TDAH como
distúrbios de tonicidade, de representação do corpo, espaço-temporais e distúrbios
práxicos, julga importante que se considere a diferença entre o que se vive com o
corpo e a consciência do que se vive com o corpo.
De acordo com Ajuriaguerra (1984) em seu “Manual de Psiquiatria Infantil”, o
objetivo de uma terapêutica psicomotora consiste na modificação do tônus de base
influir na habilidade, na organização do esquema corporal, na posição e na rapidez,
“modificando o corpo em seu conjunto, no modo de perceber e apreender as
aferências emocionais”. (AJURIAGUERRA, 1984, p. 239).
39
O tratamento do TDAH pelos moldes da abordagem psicomotora visa
reeducar a atividade tônica, melhorar a atividade de relação e fomentar o
desenvolvimento do controle motor. O foco da terapia é a comunicação e a
expressão do corpo, conforme Levin (1995).
A globalidade e a totalidade da pessoa são constantemente ressaltadas na
terapia psicomotora e dá-se ainda grande importância às emoções, à expressão e à
afetividade, considerando o corpo, a motricidade e a emoção, como uma totalidade e
uma globalidade em si mesmas.
O sistema de ação do psicomotricista é, segundo Aucouturier (1986), a forma
de intervenção. Esse sistema é sustentado à medida que o profissional é um
parceiro simbólico1 da criança, escutando com empatia tônica (sentindo com ela) e
demonstrando respeito e segurança, sem autoritarismo.
É função do psicomotricista fazer com que o corpo da criança com TDAH seja
novamente notado, reconhecido e reinterpretado, visto que frustrada pela
incapacidade de estabelecer relações consigo mesma e com os outros, a criança
torna-se insegura, frágil, vitima do próprio isolamento e cria couraças, como uma
barreira que se interpõe entre ela e o mundo, afirmam Ferreira, Thompson e
Mousinho (2002).
Estes autores afirmam que diante do fato da etiologia do TDAH não ser
totalmente conhecida, a proposta da Psicomotricidade é tentar prevenir diagnósticos
incorretos e tratamentos inadequados ou insuficientes.
2.4 A Organização Psicomotora
“A família é como a varíola: a gente tem quando criança e fica marcado para
o resto da vida”. (SARTRE apud AGUIAR, 2008, p. 202).
A família enquanto primeira instituição socializadora ensina o infante a se
conhecer e a se nomear. Quando a criança sente um conjunto de reações orgânicas
que lhe causam certo incômodo, por exemplo, e se exprime verbalmente ou não, é
uma outra pessoa quem vai fornecer o nome convencional (ex.: dor de barriga).
Assim, a criança aprende que aquele desconforto se chama dor de barriga.
O desenvolvimento psicomotor caracteriza-se pela maturação que integra o
1 O termo parceiro simbólico remete à idéia de o psicomotricista se colocar ao mesmo nível da
criança, na tentativa de compreendê-la empaticamente.
40
movimento, o ritmo, a construção espacial, o reconhecimento dos objetos, das
posições, a imagem do nosso corpo, o afeto e a palavra, é o que afirma Bueno
(1998).
Coutinho e Moreira (1992) compartilham desta mesma opinião de que é na
infância que o mundo adulto impõe suas significações e complementam que
é possível se caracterizar o desenvolvimento como o conjunto de
competências manifestas num determinado momento da vida do indivíduo.
esse desenvolvimento, que se constitui num processo sempre dinâmico,
tem merecido a atenção dos estudiosos de praticamente todas as épocas
da história da humanidade. (COUTINHO; MOREIRA, 1992, 27).
Bueno (1998) ainda relata que segundo a opinião de Vygotsky, a realidade é
criada e está em transformação permanente. Qualquer psicologia é genética e deve
acompanhar o ser humano completo na interação com o meio, pois o outro tem
papel fundamental no desenvolvimento e na linguagem da pessoa.
A organização psicomotora diz respeito, além do desenvolvimento psicomotor,
à construção do tônus, do esquema corporal e da imagem corporal, que serão
detalhadamente explicados nos tópicos seguintes. Mas para se entender melhor a
organização psicomotora, será antecipado um breve quadro, expondo as principais
características de esquema corporal e imagem corporal.
O quadro a seguir foi elaborado para se visualizar melhor a distinção feita por
alguns autores acerca do esquema e da imagem corporal descritos por Lemos
(2000), reiterando que é graças à articulação imagem/esquema corporal que a
pessoa se percebe e dá-se a organização psicomotora.
AUTORES ESQUEMA CORPORAL IMAGEM CORPORAL
Dolto (1992)
Refere-se a utilização do próprio
corpo, suas relações com o
espaço dos objetos e das
pessoas.
É única para cada pessoa, referindo-se a tudo
que a pessoa sente, introjeta, vivencia,
representa de si mesma e para si mesma.
Vayer (1982)
É a vivência funcional do corpo. Vai além do esquema corporal, refere-se à
experiência do corpo como símbolo do “eu”
em sua atuação e relação com o mundo.
Em síntese, o esquema corporal é uma realidade de fato, sendo de certa
forma o viver carnal no contato com o mundo físico. As experiências reais dependem
da integridade do organismo ou de suas lesões neurológicas, musculares, ósseas e
41
ainda das sensações fisiológicas viscerais, circulatórias, também chamadas de
quinestésicas.
2.4.1 Tônus
Entende-se por tônus o estado de semi-contração permanente do músculo. É
o elemento fundante da organização psicomotora do indivíduo. O tônus desenvolve
os papéis de organizar/preparar os movimentos e de sustentar as ações da ordem
da organização física e afetiva da pessoa.
Ferreira, Thompson e Mousinho (2002) informam que Wallon dedicou uma
atenção especial ao estudo da função tônica da musculatura e sua relação com a
esfera emocional. Ele chamou de “diálogo tônico”, os sinais de contentamento e de
angústia que a criança transmite à mãe, por meio da gestualidade.
De acordo com Ajuriaguerra (1984), o diálogo tônico, ou linguagem corporal,
traduz a comunicação não verbal que joga o sujeito na comunicação afetiva com o
outro. É através deste diálogo primitivo que se organiza a relação mãe-bebê.
2.4.2 Esquema Corporal
Antes de definirmos o esquema corporal cabe refletir: o que é o corpo? A
palavra corpo, segundo Levin (1995), provém de várias origens. Em Sânscrito
garbhas quer dizer embrião, em grego korpós significa fruto, semente, envoltura e
em latim corpus é o mesmo que tecido de membros, envoltura da alma, embrião do
espírito. Platão citado por Levin (1995) considerava o corpo como o lugar transitório
da existência de uma alma imortal. E Descartes, também lembrado pelo mesmo
autor, considerava o corpo como apenas uma coisa externa que não pensa.
Levin (1995) reportando à Jean Le Camus, ícone na história da
psicomotricidade, diz que o corpo é marcado por aspectos orgânicos, sociais e
psíquicos e o descreve conforme:
 Corpo Hábil: é o que precisa ser treinado, corpo neurológico, isolado,
condicionado. É o corpo de cunho cientificista.
 Corpo Consciente: é o corpo da aprendizagem, da relação entre inteligência,
motricidade e psiquismo. A criança precisa entender para quê serve cada
42
parte interna e externa do corpo para ter consciência do mesmo. Inaugura-se
o esquema corporal, ou seja a percepção e a integração do corpo
funcionalmente.
 Corpo Significante: o corpo que fala, expressa-se. É o corpo da linguagem
dos significantes mudos.
O autor ressalta a necessidade da integração do corpo hábil + corpo
consciente + corpo significante para dar sentido ao esquema e à imagem corporal do
indivíduo que estão intrinsecamente ligados. Afinal, em todos os aspectos corporais,
o ser humano é único.
Agora sim, após entendermos o que é o corpo, por definição, o esquema
corporal é o padrão interno do qual se referem as ações do sujeito. Ele engloba
ainda fatores práxicos de funcionamento, ou seja, é a percepção e a integração do
corpo funcionalmente.
O esquema corporal é formado por parte das aferências sensoriais, táteis,
cinestésicas e posturais, vestibulares e sobretudo visuais e se libera do domínio
puramente perceptivo-motor para se constituir num padrão, ao qual,
necessariamente vão ser reportadas todas as sensações, percepções, imagens e
intenções motoras. É, portanto na atividade sensório-motora que devemos procurar
a progressiva integração do esquema corporal. As primeiras partes integradas
conscientemente a este esboço do esquema corporal são as mãos.
A formação do esquema corporal implica na integração dos fatores táteis,
cinestésicos, posturais, vestibulares, interoceptivos e visuais, que são
experimentados através da ação e das vivências nas relações de objeto.
A abordagem neuropsicológica do esquema corporal constitui um dos mais
significativos modelos da psicomotricidade, segundo Fonseca (1981). Dentro de uma
perspectiva multidimensional, a somatognósia tem sido estudada em várias
perceptivas, dentre elas: neurológica, psicanalítica, fenomenológica e psicológica.
A noção de somatognósia emerge como sinônimo de sentimento de
existência, cinestesia. Trata-se de uma representação ativa e dinâmica do corpo no
espaço. A noção do corpo para muitos autores é mítica, fantásmica e profana. A
somatognósia é um modelo corporal plástico, com singularidade própria e locação
intra individual, com o qual nos reconhecemos no que somos um componente
43
inseparável do psíquico, cujo substrato neurológico principal de integração, parece
situar-se no córtex parietal, segunda unidade funcional de Luria citado por Fonseca
(1981).
Essa unidade funcional é composta por áreas primárias, secundárias e
terciárias, onde se verificam equivalências e associações multissensoriais e meta
componenciais que têm a sua origem na aprendizagem experimental e na interação
sociohistórica e contextual, na qual o indivíduo se desenvolve em termos evolutivos,
holístico e sistêmicos.
O corpo assim concebido não é somente forma anatômica e física, mas
sentido e significação, processo de comunicação básico, não-verbal e vital, centro
de diálogo com o mundo social e contextual. A somatognósia reflete um estado
corporal pessoal, consubstancia-se uma autoscopia personalizada, uma verdadeira
âncora de identidade do eu.
A monografia de Lemos (2000) traz contribuições acerca do conceito de
esquema corporal e complementa que ele estrutura-se ao longo da infância,
projetando-se numa evolução e mudança constantes durante toda a existência do
indivíduo. As primeiras manifestações de vida e presença do ser humano, segundo
esta autora, são movimentos reflexos relacionados ao sistema nervoso e
desencadeados pelas sensações: interoceptivas (ou viscerais); proprioceptivas (ou
musculares) e exteroceptivas (ou resultado de estimulação dos órgãos do sentido).
A presença humana afetiva transforma o mundo hostil em favorável e permite
uma passagem mais tranquila da simbiose fisiológica para uma afetiva. Este período
de transição é conhecido como estágio pré-objetal e sua principal característica é
que o bebê não percebe separação entre a mãe e ele mesmo, vivenciando todas as
variações tônico-emocionais ocorridas nela.
Fonseca citado por Lemos (2000) diz que o TU ocorre antes do EU, ou seja, a
criança reconhece o outro, identifica-se com ele, vivencia, imita e expressa os
sentimentos que capta no outro, como seus.
Chama-se estágio objetal, a fase que se inicia por volta do oitavo mês. O
bebê reconhece a separação entre si e a mãe, gerando angústia de separação.
Segundo a autora, Piaget chamou de função ajustamento, a inteligência motora, ou
seja, a capacidade de ajustar as próprias ações às situações concretas, soluções
44
motoras para problemas propostos.
À medida que a linguagem se desenvolve, através dela, a criança interioriza
suas ações e torna-se capaz de resolver problemas propostos através da reflexão:
pensa para agir – o que foi chamado por Piaget de função interiorização.
Ocorre também a aquisição do jogo simbólico. A imitação e a possibilidade de
movimentos são essenciais em todo esse processo evolutivo. Um esquema corporal
mal estruturado, segundo Lemos (2000), tem como resultado um déficit na relação
sujeito-mundo e poderá gerar inseguranças e dificuldades de aprendizagem.
De acordo com Brofenbrenner citado por Fonseca (1981), é o organismo todo
e não apenas o corpo ou o cérebro que interage com os vários ecossistemas, desde
o ecossistema maternal ao ecossistema envolvimental. A somatognósia é uma
construção mental do homúnculo infame dentro do cérebro e representa o mapa
dinâmico de todo o organismo, cuja representação se espalha por várias áreas do
cérebro. Por definição a somatognósia é uma zona de convergência, que reúne
representações disposicionais em todo o cérebro.
Em suma, a somatognósia subentende uma cognição corporal, uma
verdadeira inteligência corporal e quinestésica, cujos diversos exemplos práticos
humanos são testemunho relevante, pois sem a harmonia entre o corpo e a mente
seria impossível à mente a expressão concreta e transcendente dos poderes
expressivos do corpo.
Importa ainda falar sobre o conceito de lateralidade, que se difere do
conhecimento de esquerda e direita (noção de dominância lateral aos 5-6 anos de
idade). Trata-se da capacidade motora de percepção integrada dos dois lados do
corpo (direito e esquerdo). A Lateralidade é o elemento fundamental de relação e
orientação com o mundo exterior. Ela liga-se ao desenvolvimento do esquema
corporal e a predominância de um dos lados do corpo se faz em função do
hemisfério cerebral dominante.
Ferreira, Thompson e Mousinho (2002) definem a lateralidade como dados
neurológicos influenciados por hábitos sociais. Segundo estes autores, descobrimos
a lateralidade dos membros inferiores e superiores e dos olhos.
A lateralidade é importante na evolução da criança porque influi na idéia que
ela tem de si mesma, na formação de seu esquema corporal, na percepção
da simetria de seu corpo e contribui para determinar a estrutura espacial.
(FERREIRA; THOMPSON; MOUSINHO, 2002, p. 88).
45
2.4.3 Imagem Corporal
“O nosso modo de olhar instaura verdades”. (NASCIMENTO, 2008, p. 86).
Segundo Ferreira, Thompson e Mousinho (2002), foi Schilder quem primeiro
descreveu a natureza da formação da imagem corporal do indivíduo e diz que a
imagem corporal considera uma representação simbólica que não necessariamente
corresponde ao corpo real.
Esta imagem corporal desenvolve-se por meio das experiências de prazer e
de dor, de êxito e de fracasso, incorporando os valores sociais que o meio dá ao
corpo. A criança investe de significações, de sentimentos e de valores bem diversos
e pessoais.
A descoberta do meio faz-se pela exploração corporal com a implicação
gradual dos órgãos dos sentidos e com a aprendizagem das funções
complexas. Todas as sensações que sente durante suas experiências
deixam traços e se inscrevem na trama complexa e sutil de seu sistema
nervoso. Sensações do tipo “o que está acontecendo com meu corpo”, ou,
em outras palavras, daquilo que está acontecendo no limite entre o eu e o
não eu, são essenciais na construção da imagem e do esquema corporal.
(FERREIRA; THOMPSON; MOUSINHO, 2002, p. 100).
A imagem corporal liga-se ao mundo imaginário e ao dos sentimentos ligados
ao conhecimento e vivências do corpo. Segundo Vayer citado por Lemos (2000), a
imagem do corpo vai além do esquema corporal e refere-se à experiência do corpo
como símbolo do “eu” em sua atuação e relação com o mundo. É a síntese viva das
experiências emocionais. É também descrita como a impressão que a pessoa tem
de si mesma (baixa/alta, gorda/magra, bela/feia e assim por diante).
A imagem do corpo é renovada a cada ação psicomotora e relacional,
necessitando de um afastamento de si mesmo para se ver conforme a ótica alheia,
associando os dois pontos de vista e construindo a nova imagem corporal. Pode-se
dizer que é feita uma redução fenomenológica da imagem corporal, suspendendo-se
a atitude natural para só depois conciliar a hétero com a autoimagem. A autoestima
tem a ver com o quanto a pessoa gosta ou não do produto final desta autoimagem.
2.4.4 Espaço
46
A organização espacial não é inata. Ela é elaborada e construída
mentalmente através dos movimentos/deslocamentos que o indivíduo realiza no
meio em que vive. Toda informação relacionada com o espaço tem de ser
interpretada por meio do corpo, dos dados sensoriais e cinestésicos. São essas
percepções sensoriais que indicam a quantidade de movimento necessário para a
exploração espacial, é o que declaram Ferreira, Thompson e Mousinho (2002).
Segundo Le Boulch mencionado por Ferreira, Thompson e Mousinho (2002),
a estruturação e a organização espacial se desenvolvem a partir da percepção da
posição do próprio corpo no espaço; dos objetos em relação a si mesmo e das
relações das posições dos objetos entre si.
A estruturação espacial, de acordo com Coste (1992), diz respeito à
percepção do próprio corpo em relação aos demais elementos do mundo. É orientarse
no espaço físico, tendo em vista o próprio corpo e os elementos do ambiente. No
desenvolvimento infantil, o espaço se forma a partir da percepção dos movimentos,
posturas e relação entre os objetos, o que implica em ação e manipulação, para
depois chegar a uma estruturação espacial. O espaço é o lugar onde a pessoa está
no mundo.
Durante a estruturação espacial a criança desenvolve a noção de distância e
a percepção das formas no espaço. A estruturação espacial não poderá ser
ensinada à criança, ela desenvolverá como resultante do amadurecimento, da ação
no mundo e do relacionamento social.
Conforme Coste (1992), uma má orientação espacial, levará a dificuldades de
organização e aprendizagem, tais como dificuldades de escrita e de aprendizagem.
2.4.5 Tempo
A estruturação temporal trata-se da capacidade de situar-se em relação a um
antes e um depois, de perceber movimentos rápidos e lentos, bem como as
sequências temporais. De acordo com Coste (1992), as primeiras experiências
rítmicas são vividas no útero. Rigidez no ritmo materno acarreta desorganização
que repercute no equilíbrio tônico da criança. Embora a vivência temporal se inicie
47
prematuramente, a compreensão do fenômeno tempo só ocorrerá mais tarde, sendo
resultado de um desenvolvimento gradual, espaço-temporal.
As alterações na estruturação temporal poderão causar dificuldades motoras,
relacionadas ao ritmo geral e mesmo respiratório, problemas auditivos, de linguagem
oral e percepção das sequências que consequentemente afetam a aprendizagem.
2.4.6 Organização Psicomotora de Crianças que apresentam sintomas do
TDAH
Um esquema corporal mal estruturado, segundo Lemos (2000), tem como
resultado um déficit na relação sujeito-mundo e poderá gerar inseguranças e
dificuldades de aprendizagem. Este argumento serve como justificativa para o
comportamento inadequado e a desatenção de crianças que apresentam sintomas
de TDAH.
Conforme Coste (1992), uma má orientação espacial, levará a dificuldades de
organização e aprendizagem, tais como dificuldades de escrita e de aprendizagem.
Este argumento serve como justificativa para a desatenção e dificuldades de escrita
das crianças que apresentam sintomas de TDAH.
Ainda segundo Coste (1992), as alterações na estruturação temporal poderão
causar dificuldades motoras, relacionadas ao ritmo geral e mesmo respiratório,
problemas auditivos, de linguagem oral e percepção das sequências que
consequentemente afetam a aprendizagem. Este argumento também é válido como
justificativa para a desatenção e a dificuldade de aprendizagem das crianças que
apresentam sintomas de TDAH.
Ferreira, Thompson e Mousinho (2002) afirmam que a representação do
corpo da criança com TDAH é marcada pelo déficit no conhecimento do próprio
corpo, pela falta de coesão entre a possibilidade da realização do ato e do seu
projeto motor e ainda pelo sentimento de abandono e rejeição. Com as
necessidades não atendidas, compensam buscando caminhos indiretos para a
satisfação e sob tensão, sua sensibilidade tende a diminuir. As outras pessoas não
os aceitam e nem eles mesmo se aceitam.
48
3 LIMITES X POTENCIALIDADES
Vivemos em um mundo que quase não aceita as diferenças. As crianças e os
adolescentes têm que apresentar um único modo de comportamento, definido
previamente pela sociedade. Os ditos “diferentes” são considerados um problema,
que cabe aos pais resolverem. Na escola, essas crianças e adolescentes são de
imediato rotuladas como tendo hiperatividade, déficit de atenção, depressão,
transtorno bipolar etc. Sucupira (2009) diz que a confirmação destes diagnósticos
ocorre através do uso de testes e provas elaborados de tal forma que servem para
transformar em sinais de doença, as manifestações que podem ser normais quando
se considera o contexto de cada criança.
Dados colhidos pela pesquisadora da Revista Veja, Buchalla (2004),
demonstram que pesquisas feitas nos Estados Unidos apontam que até um terço
dos garotos em idade escolar naquele país usa Ritalina, embora muitos deles não
precisem. Um estudo recente da Universidade Estadual de Campinas revelou que,
de um grupo de crianças diagnosticadas com hiperatividade, 23% não exibiam
problemas de aprendizado. Ou seja, provavelmente estavam sendo tratadas de um
distúrbio do qual não sofriam.
O tratamento medicamentoso deixa para a família e para a criança e o
adolescente a impressão de se tratar realmente de uma doença. Isso afeta a
autoestima, ao se verem como portadores de uma doença que as impede de
aprender como as outras pessoas.
Muito se fala na agitação da criança hiperativa, mas é preciso entender que
essa perturbação não reflete a intenção dela de incomodar. A agitação é a
manifestação da dor, do fato da criança sentir-se rechaçada, incompreendida e
carente de atenção.
Só recentemente as crianças conseguiram ter mais direitos que os animais,
e considerou-se a possibilidade de que seu comportamento inadequado
pudesse significar algo diferente de uma possessão satânica ou uma
fraqueza moral que mereça ser punida. (HALOWELL, 1999, p.26).
Hallowell (1999) afirma que as crianças com DDA em geral desenvolvem
problemas relativos a autoimagem e autoestima. Ao longo da infância, em casa, na
escola, elas escutam que são imperfeitas, burras, estúpidas, preguiçosas, teimosas,
voluntariosas, insuportáveis, delirantes, sonhadoras, lunáticas dentre outros rótulos.
49
As crianças hiperativas não se encaixam no mundo experienciado pelas
pessoas não-hiperativas e vice-versa, como no mito de Procusto.
Procusto era um bandido de Ática, na periferia da Grécia Antiga, que
construíra em casa um leito de ferro. Diz a lenda que ele interceptava os
viajantes nas ruas, e os chamava a conhecer sua moradia. Ele convidava
esses estranhos para jantar, e quando terminava a refeição estendia-os
sobre o leito de ferro. Então colocava a cabeça do convidado rente à
cabeceira da tal cama, de maneira que, se pelo outro lado sobravam as
pernas ou os pés, cortava-os para que o corpo se ajustasse perfeitamente
ao tamanho do leito. Se as pessoas que deitavam não chegavam à
cabeceira ou aos pés, Procusto as esticava por meios que infligiam terrível
sofrimento, de forma a desconjuntá-las. Em vez de acomodar a cama ao
tamanho das pessoas, Procusto fazia com que estas se ajustassem às
medidas da cama. A mitologia diz que Procusto morreu às mãos de Teseu,
que lhe aplicou o mesmo castigo que ele infligia às suas vítimas. (LOPES,
2010, p. 7).
Moral da história, o próprio Procusto não se ajustava às regras impostas por
ele mesmo. A maioria das pessoas não se esforça para compreender as
potencialidades das crianças e acabam as sentenciando da maneira que os convém.
Muitas vezes se esquecem que já vivenciaram a infância e simplesmente julgam o
comportamento inadequado da criança, sem contextualizá-la naquele momento.
Durland (2006) diz que normalidade é muitas vezes um subterfúgio para a
uniformização. Até mesmo lares desestabilizados e destruídos podem produzir
crianças agitadas e mentalmente inseguras.
Desde há muitos anos que médicos e cientistas sabem que, para permanecer
saudável, o organismo humano, além de afeto, necessita de certos nutrientes,
vitaminas etc; omita-se qualquer um destes elementos e ter-se-á como
consequência provável o desenvolvimento de um problema. Acrescentem-se outros
elementos que alterem a mente e/ou o corpo e ter-se-á como consequência
problemas sérios.
Quase todas as escolas americanas têm em abundância máquinas de junkfood,
que segundo Durland (2006) são fontes de interrupção escolar e fornecem
potentes doses de açúcar que provocam agressão ao organismo e este ao detectar
o excesso de açúcar, movimenta-se no sentido de o neutralizar.
Como se sabe, o desenvolvimento psicomotor de meninos e meninas
acontece de forma diferenciada. Meninos preferem brincadeiras que envolvem
corrida, força e maior agitação. Já as meninas brincam com um gasto menor de
50
energia física. Gostam de brincadeiras que envolvem detalhes, como pequenas
bonecas e seus acessórios. Daí a idéia de afirmarem que a maioria dos meninos são
hiperativos e as meninas, desatentas.
Sucupira (2009) diz que muitas crianças não são compreendidas em seu
contexto. Não se procura escutá-las, entender porque se comportam assim. São
inúmeras as condições que levam as crianças e adolescentes a se portarem de uma
ou de outra maneira. São infinitas as possibilidades de aprender, construir uma
linguagem, constituir-se como sujeito. Trata-se de crianças e adolescentes que
apresentam comportamentos construídos ao longo das relações familiares e sociais
e acentuados na vivência escolar.
Normalmente, é no ambiente escolar que os problemas de atenção e
hiperatividade começam a aparecer. Além de agitada, a criança não consegue tirar
notas boas ou pode ter problemas para se relacionar com os amigos. Por isso, os
médicos ressaltam a importância do professor nesse processo: ele pode levantar a
hipótese da existência de TDAH. Mattos, citado por Cuminale (2010), afirma que
muitas vezes, os professores percebem os sinais antes mesmo dos pais e por isso é
importante ouvi-los.
Nas escolas, o comportamento das crianças é observado de perto por
pedagogos. Quando uma criança começa apresentar um comportamento prejudicial,
os pais devem ser imediatamente convidados para uma conversa.
"Nem todos os que são agitados têm TDAH", alerta Silvania Leporace,
coordenadora do serviço de orientação educacional do Colégio Dante Alighieri, em
São Paulo. "As crianças fazem muitas coisas ao mesmo tempo, mas nem todas são
hiperativas. Algumas só precisam de regras e limites", completa, na reportagem de
Buchalla (2004).
É também importante entender o papel da escola e da família na gênese
desses comportamentos, segundo Durland (2006). Atualmente a Educação está
dirigida para o sucesso acadêmico, graduação em uma carreira profissional,
especialização, pós-graduação. Crianças e adolescentes que têm outras aspirações
como serem artistas, dançarinos, atletas, não conseguem se adequar ao modelo de
ensino nas escolas. Muitas vezes não conseguem manter a atenção nas tarefas da
escola, as quais se mostram defasadas ou estranhas ao seu ambiente. Entretanto,
51
desenvolvem atenção para jogar videogames, ouvir e decorar letras de músicas,
atividades com as quais se identificam.
Hallowell (1999, p. 64) diz que alguns gênios (Mozart, Einstein, Edgar Allan
Poe, George Bernard Shaw, Salvador Dalí, Thomas Edison, Abraham Lincoln, Henry
Ford e John Irving) foram expulsos da escola, ou eram piores alunos das classes, ou
concluíram o colegial com dificuldade e provavelmente tinham DDA, mas ao longo
da vida tiveram oportunidades de aproveitar seu potencial positivamente.
O fraco desempenho escolar que muitas dessas crianças e jovens
apresentam gera nos pais o medo de que fiquem fora do sistema. Daí ser mais fácil
aceitar que se trata de um problema nos neurotransmissores que pode ser tratado.
Não se considera a subjetividade e a singularidade de cada criança, as suas
relações familiares e o contexto onde vive.
Dessa forma, trata-se o cérebro com medicações que visam de alguma forma
homogeneizar os comportamentos. Eliminar os diferentes. Nega-se e destrói-se a
criatividade, como algo que pode ameaçar a ordem na escola, na família, na
sociedade. Sonhos e devaneios na sala de aula são considerados transgressões. A
agressividade faz parte da criatividade, não é algo que tenha que ser evitado ou uma
enfermidade a ser curada. Há que se diferenciar a agressividade do ato agressivo.
De acordo com Durland (2006) é fundamental escutá-las, entender seus
desejos, seus temores, seus conflitos, seus sofrimentos. Reconstruir a história
dessas crianças e adolescentes para entender como foram produzidos esses
comportamentos ao longo de suas vidas. Não se pode esquecer que esses
comportamentos são fruto do modo como funciona a sociedade atual, e o uso de
medicamentos para ajustar as crianças e adolescentes a esse modo de viver
constitui uma violência contra os mesmos. Faz-se necessário discernir entre limites
e potencialidades.
3.1 A Grande Luta
“A criança com TDAH não deve ser encarada como uma criança problema e sim como uma
criança que tem um problema”. (FERREIRA; THOMPSON; MOUSINHO, 2002, p. 104).
Hallowell (1999) chama de grande luta o que em geral se desenvolve em famílias
52
quando um dos filhos ou um adulto tem DDA. A grande luta começa em geral de
forma branda, um lado tentando persuadir o outro a fazer algo. Esta grande luta
pode durar anos, pode até lembrar uma guerra, com temporadas de ataques e
contra-ataques por diversos motivos: para casa, atitudes, afazeres domésticos,
cooperação, irresponsabilidade etc.
Na grande luta, a pessoa com DDA vira o que a Teoria Sistêmica chama de
paciente identificado (PI) e leva a culpa por quase tudo que houver de errado na
família.
A grande luta raramente alcança um fim construtivo. Pode haver ganhos a curto
prazo, como ordens atendidas e deveres cumpridos, mas geralmente o custobenefício
é tão alto que não vale a pena para a família.
crianças com DDA são frequentemente a fonte de contendas familiares e
discórdias conjugais. Os pais ficam tão raivosos e frustrados que perdem o
controle, não apenas com a criança, mas também um com o outro. Logo
irrompem batalhas sem trégua, enquanto a criança se transforma em bode
expiatório para tudo o que está errado na família. (HALLOWELL, 1999, p.
76).
Os relacionamentos familiares com frequência se caracterizam por
ressentimento e hostilidade, especialmente porque a variabilidade no estado
sintomático do indivíduo muitas vezes leva os pais a crerem que todo o
comportamento perturbador é voluntário.
53
4 DR. THOMAS SZASZ E O MITO DA DOENÇA MENTAL
“A ciência deve começar com os mitos e com a crítica dos mitos”.
(POPPER apud SZASZ, 1974, p. 15).
As afirmações, conceitos e críticas relacionadas neste capítulo, relativos à
antipsiquiatria e à doença mental, foram extraídas da Obra “O Mito da Doença
Mental”, cuja primeira publicação no ano de 1961 resultou na exoneração do Dr.
Thomas Stephen Szasz, professor de psiquiatria da Universidade Estadual de Nova
York (State University of New York, Syracuse). Seus objetivos eram demolir,
segundo ele, os princípios falsos do pensamento psiquiátrico contemporâneo e
estabelecer os fundamentos de uma teoria do processo da conduta pessoal.
Para Szasz, a psiquiatria utiliza os métodos de análise da comunicação e
neles se baseia, semelhantemente aos praticantes das disciplinas que se ocupam
do estudo das línguas e do comportamento comunicativo tais como a lógica
simbólica, a semiótica, a semântica e a filosofia, portanto no âmbito social. O corpo
conceitual da medicina, entretanto, fundamenta-se nos princípios da física e da
química, com bases biológicas. Szasz (1974, p. 20) informa que após a permissão
para dissecação de corpos, a anatomia tornou-se a base da ciência médica. A partir
de então, segue a narrativa, os médicos eram capazes de identificar numerosas
alterações na estrutura do corpo, as quais não seriam aparentes de outra forma.
Sendo assim, é tarefa da medicina e não da psiquiatria, enquanto especialidade
desta, estudar, e se necessário, alterar a estrutura e a função fisioquímica do corpo
humano. O autor radicaliza afirmando que “para a psiquiatria, imitar a medicina é
mais importante que dizer a verdade”. (SZASZ, 1974, p. 20).
Ele afirmou que o único propósito da Psiquiatria é medicalizar determinados
aspectos do estudo e controlar o comportamento humano. Dedicou sua carreira a
encontrar respostas razoáveis a questões tais como: que princípios regem as leis da
Psiquiatria? Sobre que fundamentos atuam os psiquiatras ao concluírem que seus
pacientes estão mentalmente perturbados? Quais são as verdadeiras características
de uma doença mental?
Este psiquiatra, nada convencional, afirma em vídeo publicado no site dos
Cidadãos da Comissão de Direitos Humanos do Leste dos Estados Unidos (Citizens
Commision Human Rights - CCHR East US) que os psiquiatras têm, por centenas
54
de anos, usado termos diagnósticos, para estigmatizar e controlar pessoas, tais
como Drapetomania e Histeria. Complementa que eram diagnósticos legítimos,
assim como o TDAH o é em nossos dias.
Na primeira parte do livro “O Mito da Doença Mental” , quando o autor
apresenta o desenvolvimento e a estrutura do mito, grande ênfase é dada à histeria,
primeiramente reconhecida por Sigmund Freud e Josef Breuer, neurologista e
neuropatologista, respectivamente, alunos de Jean Martin Charcot, especializados
em doenças do sistema nervoso, ao próprio Charcot (chamado de “o César” da
Salpetrière) e à visão desumanizante sobre a pessoa doente. “Charcot por certo
sabia que enganava a si próprio quando acreditava que a histeria era uma doença
do sistema nervoso”. (SZASZ, 1974, p. 40).
Conforme a comparação efetuada pelo autor, assim como Guillotin2 tornou "o
morrer” mais fácil para o condenado, Charcot tornou mais fácil “o adoecer” ao
sofredor ou doente simulador, como era chamado no final do Século XIX.
Guillotin e Charcot não promoveram a saúde, a libertação ou “o viver”, mas
antes, aproveitaram seu prestígio e conhecimento médico para ajudar a sociedade a
modelar-se em conformidade com a imagem agradável a ela mesma.
“Se na medicina moderna novas doenças foram descobertas, na psiquiatria
moderna elas foram inventadas. Foi provado que a paresia é uma doença; foi
declarado que a histeria o é”. (SZASZ, 1974, p. 27).
Convém enfatizar que por alguns momentos discorreu-se sobre a histeria
neste capítulo, devido à marca significativa deixada por ela no início dos estudos
modernos das denominadas doenças mentais.
“Nenhum destes comportamentos foi uma doença, e, claro, não é uma
doença. E nem é o Transtorno do Déficit de Atenção” (citação verbal)3.
De acordo com Dr. Szasz, rotular uma criança como doente mental é uma
estigmatização, e não diagnóstico. Dar uma droga psiquiátrica a uma criança é
envenenamento, não tratamento. Ele afirma que as doenças são o mau
funcionamento do corpo humano. Do coração, do fígado, do rim, do cérebro, dentre
outros e que devemos combater a coerção psiquiátrica. Para este psiquiatra é uma
tarefa nobre em busca de algo que devemos, independente dos obstáculos,
2 Inventor da guilhotina, que após violar a Lei francesa, morreu guilhotinado.
3 Citação verbal, disponível em http://www.cchreus.org.
55
perseverar e nossa consciência exige que não façamos menos que isso.
56
5 DISCUSSÃO
"A conquista da liberdade é algo que faz tanta poeira, que por medo da bagunça, preferimos,
normalmente, optar pela arrumação”. (Carlos Drumond de Andrade)
Neste tópico são apresentadas as colocações de alguns defensores de que o
TDAH é um tipo de doença ou transtorno, de outros autores que garantem que não
existem comprovações científicas que o legitime e de outros ainda que admitem a
existência do TDAH, mas que grassa uma hiperdiagnose. Para facilitar a
compreensão da discussão, as opiniões serão dispostas em grupos de direita,
esquerdistas e moderados, respectivamente, atribuindo-lhes os devidos créditos.
Começando com o grupo de direita, ou dos defensores de que o TDAH é uma
doença, a ABDA afirma que o TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas
genéticas, que aparece na infância e deve ser tratado, pois frequentemente
acompanha o indivíduo por toda a vida.
A ABDA admite ainda que nenhum teste laboratorial foi estabelecido como
diagnóstico na avaliação clínica do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Os testes que exigem processamento mental concentrado são anormais em grupos
de indivíduos com TDAH, em comparação com sujeitos-controle, mas ainda não está
inteiramente claro qual o déficit cognitivo fundamental responsável por isto.
A psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva, em entrevista à Campos
(2010), repórter da Revista Psique Saúde&Vida, também afirma que o TDAH é um
transtorno neurobiológico caracterizado por três sintomas básicos: desatenção,
impulsividade e hiperatividade.
De acordo com Caliman (2008), estudos feitos com as tecnologias de imagem
cerebral, pesquisa molecular e genética fundamentam o discurso que legitima o
TDAH. Este transtorno foi oficialmente reconhecido nos Estados Unidos, através da
Resolução 370/2004. É considerado um dos problemas mais graves e importantes
da saúde pública americana. O discurso neuropsiquiátrico dominante diz ser
possível demonstrar que o transtorno é real porque seus fatores biológicos foram
descobertos. Alguns deles se tornaram possíveis de visualização, observação,
universalização e comunicação científica.
57
Maria Conceição do Rosário, professora de psiquiatria da Unifesp, na
reportagem sobre o TDAH, no jornal FOLHA DE SÃO PAULO, de 15 de setembro de
2010, reforça que existem mais de dezessete mil artigos científicos publicados sobre
o transtorno, portanto não dá pra dizer que não existe.
Já no grupo dos que refutam a idéia de que o TDAH é uma doença, os
pesquisadores de Brasília, Graeff e Vaz (2006) dizem que as técnicas projetivas,
especificamente o Rorschach e o Teste de Apercepção Temática (TAT)4 apontam
fracas evidências quanto à diferença entre pessoas com TDAH e a população dita
normal.
Ainda no jornal FOLHA DE SÃO PAULO, de 15 de setembro de 2010, que
traz uma matéria sobre o TDAH, Maria Aparecida Moysés, professora de pediatria da
Unicamp, engrossa o coro dizendo que não está nem mesmo convencida de que o
TDAH seja uma doença mental e que não há nenhuma comprovação neurológica
disso.
Szasz (1974, p. 09), que considera a doença mental um mito, diz que uma
pessoa pode sentir-se triste ou radiante, insignificante ou grandiosa, suicida ou
homicida, e assim por diante, mas provavelmente não vai classificar-se de
mentalmente doente e que é bem mais provável que isso seja sugerido por outra
pessoa.
A reportagem de Jacobina (2004), no Correio da Bahia, apresenta a opinião
do professor Rohde, quem afirma não existir nenhuma evidência que garanta que os
exames de neuroimagem possam diagnosticar a hiperatividade. E respalda a
informação, afirmando que essa é a posição da Associação Americana de Psiquiatria
da Infância e da Adolescência e do Comitê para Assuntos Científicos da Associação
Médica Norte-Americana.
Um dos pontos fundamentais quando se discute o TDAH como sendo uma
doença, lembrado por Sucupira (2009), é que não passa de hipótese há quase um
século e até hoje, jamais se conseguiram evidências científicas que comprovem sua
existência. Com o advento de exames neurológicos mais sofisticados ainda tentam
achar uma base biológica para o TDAH. Controvertida desde o início, no interior da
4 Apercepção é a interação entre os objetos do mundo externo e do mundo interno da pessoa. É a
percepção dinamicamente significativa da realidade.
58
própria medicina, observa-se que ao longo deste século, essa falta de evidências
desapareceu da sua história, e passou-se a difundi-la como um conhecimento
cientificamente embasado, inquestionável.
Entretanto, Sucupira (2009) segue observando que na literatura, mesmo os
autores que defendem sua existência chegam a admitir a ausência de conhecimento
cientificamente construído sobre o TDAH.
No grupo dos moderados, surgem opiniões tais como a de que o mundo para
as crianças com o TDAH é exigente e perturbador, em conformidade com Lopes
(2010). O autor diz se tratar de um sofrimento que só elas sabem exteriorizar por
meio de sua excitação e da agitação psicomotora. Acredita-se na existência do
transtorno, porém esse assunto virou moda, já que no caso da hiperatividade, o que
temos hoje é uma hiperdiagnose. “O universo da ordem e da organização, das
regras e da autoridade, não é o delas”. (LOPES, 2010, p. 3).
Prosseguindo com a discussão, Lopes (2010) pontua que diferentes estudos
evidenciaram que as dificuldades de aprendizado e de aceitação social da criança
hiperativa propiciam um comportamento rebelde e difícil de se controlar. O autor
menciona a opinião de Paulo Germano Marmonato, especialista em psiquiatria
infantil do Hospital das Clínicas de São Paulo, que diz ser difícil mensurar as
manifestações psíquicas além de a fronteira entre o normal e o patológico não ser
nítida nesse campo.
Lopes (2010) expõe ainda a opinião da psicóloga do Corpo Técnico
Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Osasco, Érica Furukawa,
quando afirma, que reconhecer uma criança hiperativa em sala de aula é bastante
difícil e querer que uma criança de seis anos de idade fique sentada quietinha numa
carteira é pedir demais.
A criança hiperativa é excessivamente irrequieta e apresenta dificuldades
para se concentrar, mas nem por isso apresenta algum déficit de inteligência, como
gostam de dizer os especialistas. É o que afirma Lopes (2010) e complementa que
na verdade, o contrário é bem comum. O autor consulta a opinião de Leila Tardivo,
psicóloga clínica, especialista em psicodiagnóstico de crianças e adolescentes, que
diz definir a hiperatividade em apenas uma palavra: sofrimento e que as crianças
são portadoras, sim, de um defeito no vínculo familiar.
59
O jornal FOLHA DE SÃO PAULO, de 15 de setembro de 2010, apresenta na
matéria sobre o TDAH, a opinião do psicólogo Joseph Sergeant, da Universidade
Vrije, Holanda. Ele afirma que o transtorno deve ser tratado o mais rápido possível e
diz que os médicos são mal preparados para efetuarem um diagnóstico correto.
Segundo ele, a medicina é setorizada e o transtorno é multifatorial, então não há
especialidade que domine todas as áreas envolvidas no problema.
Nessa mesma matéria, Marilene Proença, conselheira-presidente do
Conselho Regional de Psicologia (CRP), de SP, diz que o problema é que há uma
onda de super diagnósticos em curso, feitos de forma subjetiva e sem comprovação
científica.
Sobre o diagnóstico difícil, a opinião dos médicos não encerra a questão. "De
fato, existem diagnósticos errados e o uso desnecessário da medicação - o que
ocorre em todas as áreas da medicina. Mas o tratamento correto não pode pagar a
conta dos maus profissionais" . (KESTELMAN, 2009).
O Brasil ocupa o quinto lugar mundial no consumo de medicamentos, de
acordo com Morais (2003). Só no ano 2000, a indústria farmacêutica financiou 70%
dos testes de drogas clínicas realizados por instituições de pesquisa independentes
dos Estados Unidos, o que custou aos cofres dos laboratórios, sessenta bilhões de
dólares. O patrocínio de eventos e o pagamento de passagens para médicos teriam
criado uma situação de dependência que, em alguns casos, praticamente havia
transformado os congressos em encontros propagandísticos dos laboratórios.
Não é raro que um paciente seja indicado a tomar psicotrópicos, como um
calmante ou drogas para hipertensão no fim de uma consulta de apenas dez
minutos – tempo no qual é impossível para o médico levantar o histórico do
paciente, segundo Morais (2003).
Precisamos mesmo de tantos remédios? Segundo a maioria dos
especialistas, a resposta é não. Há uma drogaria para cada três mil habitantes, mais
que o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde, ou seja, há mais
pontos de venda de remédios no Brasil do que de pão.
Na Conferência “Uma Subjetividade Sem Sujeito” (2008), em Belo Horizonte,
o psicanalista francês, Erick Porge, afirmou incisivamente (informação verbal)5 que o
5 Informação obtida na Conferência realizada na PUC Minas – Unidade S. Gabriel em 06/11/2008.
60
TDAH é uma invenção da indústria farmacêutica, com o intuito meramente
comercial. Ele acrescentou em tom sarcástico que o nome do medicamento utilizado
no tratamento da suposta doença é Ritalina, em homenagem ao nome (Rita) da
esposa do dono do laboratório farmacêutico que fabrica o produto. “- Romântico,
não!”, concluiu.
No vídeo publicado em 2006, no site dos Cidadãos da Comissão de Direitos
Humanos do Leste dos Estados Unidos (Citizens Commision Human Rights - CCHR
East US) e intitulado: “Psiquiatria sem ciência e sem cura”, o neurologista, Dr. Fred
Baughman, afirma que a psiquiatria em toda a sua história não tem um caso relatado
de uma doença validada, nenhum! diz que psiquiatras se reúnem na Associação
Americana de Psiquiatria, no Comitê do DSM-IV (Manual de Diagnóstico e
Estatística)6, votam em “fazer” novos transtornos comportamentais e emocionais e
começam imediatamente a chamá-las de doenças. O Dr. Baughman afirma ser uma
completa fraude o fato de os psiquiatras dizerem ao público que esses transtornos
emocionais e de comportamento são doenças.
O Dr. Thomas Szasz diz neste vídeo, que o desequilíbrio químico é uma
mentira, pois ninguém nunca mediu, demonstrou ou criou algum teste que mostre
que alguém possui um desequilíbrio químico em seu cérebro. Ele acredita que as
pessoas que fazem os diagnósticos são quem se beneficiam com tal mentira.
A psiquiatra americana, Drª. Grace Jackson, da CCHREU, alerta que o
público deveria questionar quando recebe um diagnóstico psiquiátrico: - Aonde está
o teste químico para isto? - Aonde está o teste objetivo que mostra isto? E ela
garante que a resposta será: Nós não temos um teste químico para isto. Esta
profissional afirma que não há uma ciência racional por detrás do que os psiquiatras
acham que é a causa dos sintomas psiquiátricos. E os medicamentos que são dados
para as pessoas estão, sem exceção, introduzindo químicos capazes de alterar o
cérebro em maneiras que podem ser destruidoras, pois na ausência de um
desequilíbrio químico, comprovado que os medicamentos estariam reequilibrando,
estes medicamentos são na verdade, tóxicos.
6 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicado pela APA. (Diagnostic and
statistical manual of mental disorders)
61
6 METODOLOGIA
"Serenidade" é um interessante texto de Martin Heidegger e se refere `aquilo
que ele chamou de pensamento meditativo, conforme Alfredo (2010). Não se trata
de negar a técnica, obviamente, mas de repensar a nossa relação com ela.
A técnica não é um instrumento neutro nas mãos do homem, uma vez que ela
pode ser objeto de diversos tipos de uso, ela poderá ser usada para o bem ou para o
mal, a questão não é a da técnica propriamente dita, mas a da relação do homem
com a técnica. É nesta relação com o mundo que o pensamento meditativo se
mostra diferente.
6.1 Método Adotado
A prática consistiu na aplicação de entrevistas semi estruturadas que
fomentaram o material de análise para a conclusão da pesquisa. Os instrumentos
foram empregados conforme descritos:
 Três entrevistas semi estruturadas (Apêndice A) aplicadas aos pais/mães ou
tutores de crianças com o diagnóstico de TDAH;
 Três entrevistas (Apêndice B) para a investigação de uma amostra de escolas
públicas e particular de Belo Horizonte, concernente à incidência de casos de
crianças com o diagnóstico de TDAH.
 As entrevistas foram respondidas após o preenchimento dos Termos de
Consentimentos Livres e Esclarecidos (Anexo A).
As entrevistas foram realizadas e gravadas em domicílios e escolas, com a
autorização por escrito dos participantes. A análise dos dados obtidos na pesquisa é
qualitativa, embora as gravações não possibilitarem a captação de atitudes e
detalhes importantes durante a entrevista, há a vantagem de maior preservação do
discurso dos entrevistados, evitando comprometimento da fidedignidade do relato.
6.2 Sujeitos de pesquisa
62
Pais/mães ou tutores de crianças com diagnóstico de TDAH e especialistas
educacionais, de escolas particular e públicas da cidade de Belo Horizonte.
63
7 ANÁLISE DOS DADOS
“Reajam e encontrem soluções”. (GENET, 1976)
Provavelmente esta é a parte mais significativa da pesquisa, em termos
práticos. Os depoimentos colhidos demonstram um pouco da história da
organização psicomotora das crianças cujos pais/mães tutores foram entrevistados e
retrata os sintomas comportamentais observados pelos especialistas escolares.
Quanto ao objetivo de investigar as características comportamentais das
crianças com o diagnóstico de TDAH, notou-se que tanto através dos relatos das
mães, quanto no das educadoras entrevistadas, tais crianças não apresentam
comportamentos significativamente discrepantes em comparação às demais
crianças.
Quanto ao desenvolvimento psicomotor, todas as crianças, com o diagnóstico
médico de TDAH e cujo desenvolvimento psicomotor foi investigado, demonstraram
uma relação de autoconhecimento do esquema e da imagem corporal.
Com relação às mudanças comportamentais, após o início do tratamento
medicamentoso, todas as pessoas entrevistadas informaram que as crianças
apresentaram um comportamento mais calmo, melhorando a atenção e a
concentração, devido justamente às alterações neuroquímicas provocadas pelo
medicamento prescrito. Uma das mães relatou que não permitiu que o filho fosse
medicado com a Ritalina, devido aos efeitos colaterais. Esta mãe informou que com
uma mudança de escola, a criança melhorou significativamente seu comportamento.
O acolhimento pela direção escolar, o apoio e o carinho da família foram suficientes
para tal melhora, segundo ela.
Quanto à hipótese de que, nas escolas, o TDAH encontra-se banalizado,
conforme a observação dos especialistas em educação e consequentemente
haveria crianças sendo medicalizadas desnecessariamente, as especialistas
entrevistadas foram unânimes em afirmar que o diagnóstico não é realizado na
escola e que geralmente a queixa parte dos familiares da criança, portanto esta
hipótese não pode ser confirmada. Na amostra de escolas pesquisadas, todas as
informantes confirmaram que o comportamento das crianças com o diagnóstico de
TDAH não difere muito das demais crianças e que a queixa, geralmente parte dos
familiares que pedem para que a criança seja observada pelos professores.
64
Cumpridos os objetivos desta pesquisa, observa-se que todas as crianças,
com o diagnóstico neurológico de TDAH, cujos comportamento e desenvolvimento
psicomotor foram investigados, não apresentaram significativas divergências, com
relação aos seus pares, exceto o caso da criança que, segundo a mãe, é autista.
Isso corrobora a idéia de que o “desvio social” incomoda aos outros e vem sendo
tratado como um transtorno neuronal, embora nenhuma das crianças envolvidas
neste trabalho apresentasse autoqueixas.
O desvio ou conflito social por si sós, sem disfunção pessoal, não devem ser
incluídos no transtorno mental, é o que afirma a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE (2005, p. 55).
A seguir, alguns dos dados pesquisados serão apresentados por temas, de
acordo com o que surgiu de importante e repetitivo, no discurso de mães e
educadoras, através de citações literais de parte das entrevistas gravadas, no
período compreendido entre 08/09/2010 e 07/11/2010.
Informações sobre a família:
Foi uma gravidez muito conturbada. Tive risco de aborto aos sete meses,
tive que ficar de repouso, tive que tomar Aerolin. Do sétimo mês até o nono
foi bem complicado. (mãe 1).
Ele é o caçula e antes dele tive uma menina com uma doença cerebral
degenerativa, que não foi identificada. Minha atenção era dividida entre os
dois. Quando ele nasceu, ela estava na metade da vida dela, e veio a óbito
quando ele tinha quatro anos. (mãe 2).
Durante a gravidez eu fiquei muito estressada, não conseguia nem olhar pro
meu marido. Depois eu tive depressão, eu chorava muito, olhava aquelas
meninas tão pequenininhas e pensava: eu não vou dar conta. E chorava...
(mãe 3).
Uma questão importante é que esta criança só mora com a mãe, que é mais
problemática do que a própria menina. O pai não mora com ela, ele a visita
esporadicamente e parece que ela sente muita falta do pai. É filha única do
casal, mas o pai tem outros filhos com outra família. (educadora - escola
municipal).
A ABDA afirma que como em qualquer transtorno do comportamento, a maior
ocorrência dentro da família pode ser devido a influências ambientais, como se a
criança aprendesse a se comportar de um modo "desatento" ou "hiperativo",
65
simplesmente por ver seus pais se comportando desta maneira. Neste caso, seria
excluída a hipótese genética.
Desenvolvimento Psicomotor:
Ele engatinhou aos 4-5 meses, andou com 8 meses, segurar talher, ele
segurava muito bem. Ele falou mais tarde, mas dentro do período esperado.
(mãe 1).
Aos nove meses já pulava do berço. Ensinei ele a descer da cama várias
vezes, mas ele pulava. Engatinhou aos seis meses. Aos dois aninhos já
tinha alcançado a autonomia sanitária, mais em uma das internações de
minha filha, ele voltou a usar fralda. Ele foi alfabetizado bem cedo e aos dois
aninhos já reconhecia a posição correta das letras. No prezinho, o fulaninho
ia ao quadro, rabiscava uma garatuja e perguntava o que era. Todos diziam
que era um rabisco, ele ficava nervoso e dizia que era a letra A. (mãe 2).
Ela engatinhou com nove meses e andou com um aninho. Até hoje ela não
quer segurar os talheres, come com a mão, mas é porque não quer. Ela tem
coordenação e tem hora que ela pega. Agora que ela está deixando as
fraldas e indo ao banheiro sozinha, mas eu “pego no pé” dela porque tem
hora que ela não quer. Ela está sendo alfabetizada agora e na escolinha
tem uma estagiária por conta dela, que a prefeitura mandou. Ela já conta até
dez e sabe o a-e-i-o-u. (mãe 3).
De acordo com o relato das mães e educadoras entrevistadas, as crianças
apresentam desenvolvimento normal, com poucas dificuldades com relação à
escrita, andaram dentro do período normalmente esperado, desenvolveram o
movimento de pinça igualmente, não apresentaram qualquer dificuldade com relação
à fala, exceto uma das crianças que, segundo a mãe, é autista.
Queixas do comportamento da criança:
Ela não fala frases completas, mas todo mundo fica bobo de ver como eu
entendo ela, às vezes ela quer tirar a roupa, ela entra em desespero e puxa
a roupa. Todo mundo fica sem saber o que ela quer, mas já entendo que ela
está com calor e quer tirar a roupa. (mãe 3).
Em atividades físicas e em outros ambientes escolares como: quadra,
pátio, biblioteca, auditório, cantina etc., a criança se comporta com menos
noção de regras e disciplina. (educadora – escola estadual).
Ferreira, Thompson e Mousinho (2002, p. 98) percebem nas crianças com
TDAH, certa sensação de desconforto permanente, um estado de colapso
adaptativo, com consequências físicas e psicológicas. E para aliviarem a sensação
de angústia que lhes acometem, agitam-se numa atividade frenética, muitas vezes
extravasando um comportamento inadequado, mas nem sempre com um significado
agressivo ou intencional. Os autores dizem que a criança tenta preencher os vazios,
66
fugindo diante de toda relação que possa imobilizá-la, mas que na realidade, ela não
consegue monitorar e modelar sua expressão afetiva.
Muitas vezes ele voltava nervoso e irritado da escola por causa do bulling.
Alguns coleguinhas sabiam como ele era e o aborreciam sistematicamente
para ele ficar mais agitado e nervoso. Ele não reagia satisfatoriamente, mas
chorava, gritava e ficava agressivo. O extravasamento dele era muito alto,
era muito barulhento. Conversamos muito com ele e foi conseguindo não
reagir e a fazer de conta que não era com ele. (mãe 2).
Feijoo (2002) diz que a liberdade consiste nos possíveis ante as
necessidades e diz que um dos modos de revelação da não-liberdade é a falta de
interioridade que se expressa no corpo pela angústia, podendo mostrar-se por uma
irritabilidade tensa, por hipocondria e até mesmo histeria.
Há um trabalho pra que eles não se sintam excluídos, pra que os colegas os
aceitem. Participam de tudo, trabalhos em grupos... Não há nenhuma
atividade que eles não participem, não. (educadora – escola particular).
Em conformidade com Coutinho e Moreira (1992), todo membro de um grupo
tem necessidade de se perceber aceito e amado por seus pares. Tal necessidade
reflete seu desejo de possuir um lugar no grupo. Cada indivíduo procura realizar, de
alguma forma, o seu processo de inclusão. Alguns se tornam dependentes na busca
de sua aprovação. Outros, com agressividade, tentam se impor.
Diagnóstico:
Aqui estava eu, um profissional altamente especializado em detectar os
sintomas do distúrbio do déficit de atenção, sentado durante anos com um
homem que tinha muitos desses sintomas, e eu não os via. Aposto que não
os veria num amigo íntimo, ou mesmo em minha mulher, mais uma vez em
razão do contexto. (HALLOWELL, 1999, p. 132).
O autor demonstra através destas palavras, a importância da contextualização da
pessoa e que às vezes é preciso que se afaste para ver melhor, pois quando se é
muito próximo a alguém, tende-se a não ver o óbvio.
Eu dava atenção a ele, levava e buscava na escolinha e ele sempre foi
muito agitado em casa e na escolinha. Vez por outra me chamavam na
escolinha por causa do comportamento dele. Diziam que ele apresentava
características típicas de autismo. Gostava de enfileirar todos os
brinquedos, valorizava as sequências, era lacônico, organizava sempre
todos os brinquedos, gostava de enfileirar cartas de baralhos, expressavase
com gritos, então eu dizia: você sabe falar! Diga para a mamãe o que
você quer! Ele sempre se referia a ele mesmo em terceira pessoa: “o
fulaninho quer água”. (mãe 2).
67
De acordo com o próprio olhar da professora, a gente faz uma observação
nossa e aí a gente encaminha para uma avaliação clínica. O diagnóstico
não é feito aqui, mas é encaminhado quando a gente percebe isso: se a
questão aparece na escola e em casa também, aí é uma série de fatores.
Geralmente a queixa surge em mais de um ambiente e por um tempo maior.
(educadora – escola particular).
Tem um agente do Programa de Saúde Escolar (PSE), que é um trabalho
diretamente ligado ao posto de saúde. Quando é detectado qualquer tipo de
dificuldade de atenção, a gente encaminha para este agente do PSE e os
médicos fazem o encaminhamento para as clínicas conveniadas.
(educadora – escola municipal).
O diagnóstico correto, de acordo com a bula da Ritalina, requer uma
investigação médica, neuropsicológica, educacional e social.
O diagnóstico, a gente costuma pedir e encaminhar, depois que a criança
tem aí, uns cinco anos. Então, antes disso, é mesmo um trabalho com a
família, com a escola, com o professor. Se os sintomas persistem e
prejudicam a criança, então a gente pede o encaminhamento, mais aí é na
faixa de seis (durante o fundamental I), é de seis a doze anos. Após isso
eles vão adquirindo maior controle sobre o seu comportamento. (educadora
– escola particular).
Segundo a ABDA, é especialmente difícil estabelecer o diagnóstico em
crianças com menos de 4 ou 5 anos, pelo fato de seu comportamento característico
ser muito mais variável do que o de crianças mais velhas. Além disso, é difícil
observar sintomas de desatenção em bebês e crianças pré-escolares, porque as
crianças sofrem poucas exigências de atenção prolongada. Entretanto, mesmo a
atenção de criança pequenas pode ser mantida em uma variedade de situações, por
exemplo, a criança de 2 ou 3 anos de idade geralmente consegue ficar sentada com
um adulto, olhando livros e figuras.
Como ele era muito agitado, eu dava qualquer coisa pra ele brincar e se
distrair. Numa destas ocasiões eu dei um livro de cabeça para baixo, que
não tinha figura nem nada e ele virou ao normal. Pensei que fosse
coincidência e dei outros livros e revistas virados e ele surpreendentemente
corrigia as posições. (mãe 2).
Possíveis erros de diagnóstico:
Já fez tratamento de hiperatividade, tomou Tofranil e venceu esta etapa, os
médicos diziam que ele era super dotado, o diagnóstico dele era este”. (mãe 2).
Hallowell (1999, p. 64) sustenta que muitas crianças não sofrem de DDA, e
recomenda que deve-se ter muito cuidado para não fazer o diagnóstico com
68
excessiva facilidade e precipitação, para que não se torne um modismo.
Eu acho que qualquer escola pode provocar a desatenção da criança. Elas
convivem com uma série de crianças. É um ambiente grande, sempre tem
muitas atividades. São extremamente saudáveis e com o diagnóstico de
TDA grave. (educadora – escola particular).
A única coisa que eu acharia válido ressaltar é que o governo deveria
preparar mais os profissionais, com relação à saúde e à educação para
atenderem melhor essas crianças com TDAH, que são crianças ótimas,
inteligentes e que têm um potencial muito grande. O governo fala em
inclusão, mas os profissionais não estão preparados. Graças a Deus, meu
filho não teve nenhum prejuízo na aprendizagem, mas falta muita
informação a respeito do assunto e um tratamento que considere que
realmente ninguém é igual a ninguém. Cada ser humano é único. (mãe 1).
No começo ninguém tinha paciência com ele, nem eu tinha pra te falar a
verdade, porque a agitação dele era muita e todo mundo ficava nervoso,
mas agora todos são compreensivos. (mãe 2).
Acerca da queixa, quando o incômodo ou desconforto é endógeno, há ou
pode ser que haja uma doença, mas quando a queixa é exógena, será que não se
trata de uma questão comportamental? Sobre esta questão, Szasz (2009) é
veemente em sua colocação:
Nenhum comportamento ou desvio de comportamento é uma doença ou
pode ser uma doença. Não é o que as doenças são. Então, não importa
como uma criança se comporta. Não há nada para examinar. Se ele está
doente, então deve haver uma ciência objetiva para isso, para que possa
ser diagnosticada por médicos e testes objetivos. É por isso que assim que
você vai a um médico, eles tiram muito sangue e fazem Raio-X. Eles não
querem ouvir como você se comporta. (SZASZ, 2009).
Geralmente, elas já fazem acompanhamento médico, mas quanto à questão
da saúde mesmo, são saudáveis. (...) Ela é bem mais lenta, mas consegue
acompanhar a turma. Numa escala de zero a dez eu acho que é sete.
(educadora – escola municipal).
Esta capacidade de aprendizagem, esse nível cognitivo deles, eu não vejo
que está diretamente afetado. A questão da falta de atenção, ela atrapalha,
mas desde que isso seja trabalhado, a criança consegue aprender como
qualquer outra criança. Ela exige mais, a criança tem que se esforçar um
pouco mais, mas em geral, ela tem prejuízo na vida escolar por conta disso
mesmo, pela questão do foco, da atenção, de se distraírem facilmente.
(educadora – escola particular).
Na opinião das pesquisadoras Coutinho e Moreira (1992), na maioria dos
casos, as variáveis orgânica, cognitiva, sócio-afetiva e pedagógica apresentam-se
comprometidas umas com as outras. As autoras sugerem que exames médicos
relativos ao funcionamento da visão, audição e relacionados a doenças
69
parasitológicas e infecto-contagiosas façam parte da rotina na escola para que as
dificuldades orgânicas sejam logo detectadas e tratadas.
Foi quando ela tinha três aninhos e tivemos que levá-la ao hospital, porque
ela ficava no colo e a gente chamava ela e ela nem olhava. A pediatra disse
que ela era autista e pediu para que esperássemos, mas eu sabia que ela
tinha outra coisa. Ela pediu uma série de exames e outro médico disse que
o ouvido dela estava com excesso de produção de cera. Ele limpou o ouvido
dela e tinha uma película tampando. Há um ano ela refez os exames e está
tudo normal com a audição dela. (mãe 3).
Tratamento medicamentoso:
Não deixei ele tomar Ritalina porque todos os artigos e reportagens que eu li
na época mostravam que os efeitos colaterais eram muito grandes. Os
medicamentos aliviam os sintomas da hiperatividade, o neurologista até
queria receitar a Ritalina, mas eu não aceitei. (mãe 1).
Nunca precisou de tratamento de saúde, só agora ela toma esses remédios
dela: Neuleptil. Agora ela está mais calma e menos agressiva, antes ela
gritava, não brincava com as meninas, só ficava no cantinho dela e chorava.
(mãe 3).
Ela toma uma dose de Ritalina aqui na escola, que a família deixa na
direção pra ela tomar no horário do almoço. Ela não se comportava bem
com as colegas, as vizinhas também reclamavam, mas agora com este
tratamento atual, ela está mais tranquila. Com o uso da medicação ela
passou a ficar bem mais integrada e bem mais calma agora. (educadora –
escola municipal).
O medicamento altera a química cerebral, faz com que haja uma hipofunção
dos neurônios do lobo frontal e diminui a recaptação de neurotransmissores. Isso faz
com que as crianças fiquem quietas e se é esse o objetivo dos pais e educadores, o
medicamento, nesse sentido, é eficaz. Mas é importante lembrar que o Metilfenidato
causa dependência e não mantém o comportamento após o fim de seu consumo.
Além disso, conforme descrito em um dos depoimentos, uma das crianças, cujo
comportamento foi investigado, apresentou mudança satisfatória, sem a ministração
do remédio.
Parceria família-escola:
A gente costuma chamar a família pra perceber se a dificuldade tá sendo só
na escola ou se aparece também na casa. Quando a questão é só na
família, a gente costuma pedir: ou o acompanhamento pra família, ou
orientações da família, ou quando é só na escola, perceber se há algo aqui
na escola que possa dificultar essa questão comportamental da criança.
(educadora – escola particular).
70
As salas tem bastante estímulos visuais, mas as crianças hiperativas
sentam mais próximo à professora. No mais, todas as atividades são
realizadas em conjunto, a rotina é a mesma para todas as crianças.
(educadora – escola municipal).
A escola intervém através do diálogo com a criança e família, atividades
diferenciadas em momentos oportunos de acordo com a necessidade da
criança e do momento da aula regular com a professora. (educadora –
escola estadual).
O diretor da nova escola me apoiou muito na época e foi até um dos que
mais apoiou a associação de crianças hiperativas que eu criei. Nós criamos
a apostila e ele a levou para a escola e deu uma cópia para todos os
professores, que nos apoiaram também. Depois disso meu filho começou a
desenvolver bem. (mãe 1).
Quanto à dificuldade cognitiva, Coutinho e Moreira (1992) afirmam que
amiúde é a ausência de esquemas para a realização de tarefas. O que, segundo
elas, o professor pode ser capaz de ensinar tais esquemas, quando esses não
estiverem presentes.
“As professoras pesquisavam muito a respeito do caso do fulaninho e
aprendiam junto com ele a lidar com as situações”. (mãe 2).
“Tem uma estagiária que toma conta só dela e está ensinando a ela as
coisas”. (mãe 3).
E quanto à dificuldade sócio-afetiva a nível de ensino-aprendizagem, pelo
menos, pode ser superada, criando-se um clima afetivo saudável na relação
professor-aluno.
Antes a criança chorava muito até que criou um forte vínculo com a
professora e ficou mais tranquila. A família faz o acompanhamento junto
com a escola e dá o retorno pra gente. A criança melhorou bastante. A
escola trabalha junto com a família e a família sempre traz informações
importantes. Engraçado que todas as dificuldades dela precisaram de um
suporte afetivo para ela conseguir vencer as barreiras. Precisou deste
vínculo afetivo com a professora A criança criou um vínculo com a
professora, ela está segura e está desenvolvendo bem mesmo, tanto que já
está aprendendo a ler. (educadora – escola municipal).
71
8 CONCLUSÃO
Espero que até aqui tenha satisfeito às expectativas do leitor, quanto ao que
foi proposto apresentar. Uma vez que a parte conclusiva da pesquisa é aguardada
com o anseio de ser a mais significativa do trabalho como um todo, almejo que não
haja frustração alguma.
Este momento é ansiado ainda, para quem escreve as considerações finais,
pois aqui se tem a liberdade da escrita pessoal. Chega de “segundo o autor tal” e de
verbos e expressões impessoais. Este é o lugar da minha contribuição. Importa
registrar o meu ponto de vista e a minha colaboração.
Os meus esforços neste estudo tiveram por objetivo, propor a compreensão da
organização psicomotora de crianças diagnosticadas com TDAH. Os objetivos
específicos buscaram investigar as características comportamentais e o
desenvolvimento psicomotor de crianças com este diagnóstico, através de
entrevistas com pais/mães ou tutores; investigar a banalização desta suposta
doença nas avaliações comportamentais realizadas por especialistas em educação,
em algumas escolas particulares e da rede pública, na cidade de Belo Horizonte;
verificar possíveis mudanças comportamentais de crianças com o diagnóstico de
TDAH, após o início do tratamento medicamentoso e sua eficácia.
Ao longo da pesquisa, observei que muitos autores usam termos como “o
funcionamento do indivíduo” e “a criança TDAH”, dentre outras expressões, em
minha opinião, infelizes, que reduzem o ser humano a um rótulo e/ou à uma
condição de máquina, como a concepção cartesiana de homem. Tais expressões
foram evitadas em citações diretas.
Quanto à questão do diagnóstico, tentarei explicitar a minha opinião com uma
analogia: o fato de a energia atômica ser usada nas guerras não faz com que todos
os conflitos internacionais sejam um problema da Física, semelhantemente, o fato
do uso do cérebro ser fundamental no comportamento humano, não faz com que
todos os problemas pessoais e morais devam ser resolvidos pela Psiquiatria.
Os testes neuropsicológicos existentes (escalas, questionários e entrevistas)
vão mensurar isoladamente inteligência, atenção, concentração, funções executivas
(controle inibitório, memória operacional, flexibilidade cognitiva, tomada de decisões
72
e fluência verbal) e outras funções cognitivas (velocidade de processamento e
aprendizagem auditivo-verbal, motricidade, processamento sensorial e memória),
mas não podem afirmar seguramente que a pessoa seja acometida por um ou outro
transtorno, neste caso, o TDAH. Trata-se de uma questão de subjetividade.
O Existencialismo, em sua exuberância, mostra que a existência é um
contínuo vir a ser, um sempre ainda não, com a possibilidade de um poder ser.
Desse modo, é inaceitável a rotulação do ser humano, aprisionando-o dentro de
determinadas categorias diagnósticas. A adequada descrição fenomenológica do
mundo particular, singular e concreto do sujeito e de sua situação atual tem de
apoiar-se numa aproximação que procure apreendê-la em sua totalidade. Uma
mesma experiência pode ser vivenciada de maneiras significativamente peculiares
por pessoas diversas.
Ao iniciar minha jornada acadêmica inferi que muitas questões científicas
seriam esclarecidas, mas declaro que surgiram tantas mais, como não poderia
imaginar. Por exemplo, se as estruturas biológicas dos seres humanos são
semelhantes, o quê (contexto familiar, sócio-histórico, cultural, alimentação, fisiologia
hormonal etc.) faz com que cada pessoa “exista” de maneira exclusiva? Uma
resposta cogitada é que existe uma força maior, que denomino de Deus e que faz
com que tudo seja desta forma.
Mas acredito também que o ser humano é infinita abertura perante sua
existência. Cada pessoa é responsável pela sua vida e pelo seu futuro, ou destino.
Inicialmente, o tema desta pesquisa pressupunha que se o corpo fala, os
corpos das crianças são tagarelas, pois expressam-se não verbalmente, muito mais
do que com palavras. Respondendo se a compreensão da organização psicomotora
pode trazer à luz alguma mensagem implícita no comportamento de crianças
diagnosticadas com TDAH e possibilitar um tratamento alternativo ao
medicamentoso, firmo que sim, pois com base na análise dos dados das entrevistas,
pude notar que as crianças desenvolveram normalmente sua psicomotricidade, com
exceção de uma delas, com restrições quanto à fala apenas.
Achei por demais interessante o relato de uma das mães, que descreveu o
processo alternativo criado por iniciativa própria e contando com a colaboração da
família e do diretor da escola do filho. Tal empreendimento permitiu que a criança
73
com diagnóstico - de autista a superdotado - pudesse crescer e desenvolver-se
normalmente, sem o uso de medicamentos. Atualmente, o rapaz cursa engenharia
civil, namora e segue fazendo suas escolhas pela vida.
No mais, criticar a medicação é fácil, apresentar uma alternativa terapêutica,
seguida da gradual desmedicalização é polêmico. Acredito que podemos propor
mudanças no funcionamento institucional e principalmente das concepções técnicas,
afirmando uma clínica que visa o sujeito em detrimento de sua queixa.
Um bom exemplo é a clínica ampliada, onde o diagnóstico é realizado em
rede, ou seja, os profissionais da saúde buscam saber como o paciente se comporta
em casa, na escola, na igreja e em outros ambientes sociais. Este diagnóstico em
rede seria mais eficaz e auxiliaria melhor na forma de intervenção. Uma dica prática
é a escuta. Escutar não é ouvir, é se posicionar fenomenologicamente frente ao
problema do outro. Antes da preocupação com o indivíduo mentalmente enfermo,
deve-se apreender o ser humano em si, enquanto ser no mundo.
Sugiro, portanto, subjetivar os sintomas e acolher a quem sofre; humanizar o
tratamento, deslocando o foco da doença para o cuidado integral à análise
existencial de quem sofre. Nesse sentido, importa considerar o contexto em que a
pessoa está inserida e buscar, de alguma forma, intervir na dimensão eliciadora da
queixa, seja ela pessoal, familiar, social ou de outra natureza qualquer.
A realização deste trabalho foi pessoalmente gratificante e espero que tenha
sido importante para a academia, substanciando o acervo bibliográfico para
pesquisas futuras e que seja útil ainda no âmbito da promoção de saúde, abrindo
possibilidades para uma existência melhor.
Concluo com a certeza de que nunca é inútil refletir mais, pois no decorrer da
graduação em Psicologia há muitas informações a serem metabolizadas em
conhecimento. Muitos conceitos e preconceitos são reformulados e desaprende-se
absurdamente. Tornei-me uma pessoa mais crítica e questionadora e menos
ingênua quanto ao mundo que me circunda, às pessoas e a mim mesma.
O conhecimento construído, certamente proporcionará meios para uma boa
formação profissional, que me torne confiável e principalmente útil aos meus
semelhantes.
Na vida aprendi que pode-se pesar o ouro, mas não todo o ouro do mundo,
74
pode-se medir a areia, mas não toda a areia do mundo e pode-se contar as flores,
mas não todas as flores do mundo. Deduzi que cada ser humano é um mundo bem
complexo e, portanto, impossível de ser mensurado em sua totalidade.
75
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80
Epígrafes disponíveis em: http://www.pensador.info/frase/NTM0ODQ/. Acesso em 15
abr. 2010.
81
Apêndice A – Roteiro de Entrevistas Semi Estruturadas
ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA
Pais/Mães/Tutores
data: / /
1. A gravidez foi planejada? Discorrer a respeito das possíveis mudanças
ocasionadas com a chegada do bebê, na relação dos pais e/ou da família.
(para o caso de adoção, relatar como foi a chegada da criança na família).
2. Como era o estado de saúde da mãe durante o período de gestação? A
gestação durou os nove meses, conforme o tempo estimado? Qual foi a
modalidade do parto?
3. Durante a gravidez, como a mãe se sentia psicologicamente? (só a mãe deve
responder).
4. Os pais moram junto com a criança?
5. Há outros filhos? Para o caso da resposta ser positiva, qual o intervalo entre
as idades dos irmãos?
6. Descreva o quarto da criança (cor, acústica, iluminação, cheiros, temperatura
– calor ou frio extremos -, ventilação, enfeites e demais estímulos).
7. Descreva a rotina ambiental e o clima familiar do lar em que a criança vive.
8. Como sucederam os desenvolvimentos psíquico e motor da criança?
(primeiras palavras, engatinhar, segurar o talher, andar, autonomia sanitária,
alfabetização etc.).
9. Quais os brinquedos e as brincadeiras preferidos da criança?
10.Como é a condição geral de saúde da criança? Houve ou há algum
tratamento significativo na rotina da criança? (períodos e medicamentos).
11. Há alguma intolerância alimentar (alérgica ou de outra natureza).
12.Algum fato inusitado aconteceu nos primeiros anos de vida da criança, que
pudesse proporcionar um trauma?
13.O que fez com que surgissem as primeiras queixas acerca do comportamento
da criança?
14.Existe alguma autoqueixa? (ansiedade, angústia, sentimento de inferioridade
etc).
15.Como é o relacionamento dos pais/tutores com a criança?
16.Como é o relacionamento da criança com os demais membros da família que
moram juntos?
17.Como é o comportamento da criança na escola, segundo informações
fornecidas pela escola? E qual a versão apresentada pela criança?
18.Há queixas comportamentais em outros lugares que a criança frequenta?
82
Apêndice B – Roteiro de Entrevistas Semi Estruturadas
ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA
Especialistas Educacionais
data: / /
Instituição:
Funcionário responsável pelas informações:
Cargo/função:
Formação profissional:
1. Há nesta instituição alguma criança com o diagnóstico de TDAH?
2. Em caso positivo, alguém na escola está a par do contexto familiar desta
criança? Quem (função)?
3. Como é a condição geral de saúde da criança? Alguma doença aparente ou
grave?
4. Houve algum acontecimento significativo na escola, que supostamente tenha
desencadeado o comportamento inadequado da criança?
5. O que fez com que surgissem as primeiras queixas acerca do comportamento
da criança?
6. Existe alguma autoqueixa? (ansiedade, angústia, sentimento de inferioridade
etc).
7. A escola intervém de alguma forma? Qual a metodologia de intervenção?
8. Descreva o ambiente físico escolar (cores, acústica, iluminação, cheiros,
temperatura- calor ou frio extremos-, ventilação, enfeites e demais estímulos).
9. Como é a rotina escolar da criança?
10.Como é o relacionamento da criança com os (as) professores (ras)?
11. Como é o relacionamento da criança com os demais alunos da escola?
12.Como é o comportamento da criança com relação à apreensão dos
conteúdos ministrados?
13.Em uma escala de 0 a 10, qual seria o rendimento escolar da criança?
14.Como a criança se comporta em atividades físicas e em outros ambientes
escolares como: quadra, pátio, biblioteca, auditório, cantina etc.
15.Quais os brinquedos e as brincadeiras preferidos da criança?
83
Anexo A – Modelo do Termo de Autorização para Entrevistas
Título do Projeto: Corpos Tagarelas: uma interpretação da organização
psicomotora como a voz do corpo.
Prezado (a) Senhor (a),
Este Termo de Consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça ao
pesquisador que explique as palavras ou informações não compreendidas
completamente.
1) Introdução
Você é convidado (a) a participar de uma pesquisa que estudará o Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Você foi selecionado porque a
pesquisa conta com a participação de pais/mães ou tutores de crianças
diagnosticadas com este transtorno e/ou especialistas educacionais, e sua
participação não é obrigatória. O objetivo do projeto é compreender a organização
psicomotora de crianças diagnosticadas com TDAH.
2) Procedimentos do Estudo
Para participar deste estudo solicito a sua especial colaboração em responder uma
entrevista gravada sobre a organização psicomotora de sua (s) criança (s) com
diagnóstico de TDAH.
3) Riscos e desconfortos
A pesquisa não apresenta nenhum risco à saúde de sua (s) criança (s) e nenhum
desconforto tal como exposição da (s) mesma (s). A coleta dos dados será realizada
apenas através da entrevista gravada, não sendo necessária a presença de sua (s)
criança (s).
4) Custos/Reembolso
Você não terá nenhum gasto com a sua participação no estudo e também não
receberá pagamento pelo mesmo.
5) Caráter Confidencial dos Registros
A sua identidade e de sua (s) criança (s) serão mantidas em sigilo. Os resultados do
estudo serão sempre apresentados como o retrato de um grupo e não de uma
pessoa. Dessa forma, você não será identificado (a) quando o material de seu
registro for utilizado, seja para propósitos de publicação científica ou educativa.
6) Participação
84
Sua participação neste estudo é muito importante e voluntária. Você tem o direito de
não querer participar ou de sair deste estudo a qualquer momento, sem penalidades.
Você também pode ser desligado do estudo a qualquer momento sem o seu
consentimento nas seguintes situações: (a) você não use ou siga adequadamente
as orientações em estudo; (b) o estudo termine. Em caso de você decidir retirar-se
do estudo, favor notificar o profissional e/ou pesquisador que esteja atendendo-o.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo poderão fornecer qualquer
esclarecimento sobre o estudo, assim como tirar dúvidas, bastando fazer contato:
Nome do pesquisador: Giane Alves de Melo e Assis Cunha
Telefones: (31) 9916-0285 / 9174-8731
E-mail: giane.cunha@sga.pucminas.br
Nome do Orientador: Alexandre Frank Silva Kaitel
Telefone: (31) 9622-5472
E-mail: akaitel@bol.com.br
7) Declaração de Consentimento
Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de
assinar este termo de consentimento. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada
na descrição deste estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e recebi
respostas para todas as minhas dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia
deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Compreendo que sou livre para
me retirar do estudo em qualquer momento, sem qualquer penalidade.
Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade para participar deste estudo.
Nome do participante
Assinatura do participante ou representante legal Data
Obrigada pela sua colaboração e por merecer sua confiança.
Giane Alves de Melo e Assis Cunha Data

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